Finalmente a Marvel entregou um filme onde temos a Viúva Negra como protagonista. Desde a sua primeira aparição em Homem de Ferro 2, quase 10 anos atrás, a heroína nunca esteve à frente nas histórias dos Vingadores. Sempre foi tratada como personagem secundário, ganhando profundidade apenas quando era conveniente para o desenrolar de alguma outra narrativa. Aliás, só conhecemos um pouco de seu passado em uma breve cena de Vingadores: Era de Ultron, em 2015.
No entanto, após ver sua principal concorrente fazer sucesso com Mulher Maravilha e depois de tanta pressão por parte do público, a Marvel precisou tomar a iniciativa para enfim fazer um filme de sua principal Vingadora.
Infelizmente, Viúva Negra chega muito tarde. Os eventos dos filmes anteriores, principalmente de Vingadores: Ultimato, não favoreceram a equipe criativa a criarem uma história que explorasse de fato todo o potencial interessante da personagem de Scarlett Johansson. No fim das contas, Viúva Negra não passa de uma produção perdida no tempo estagnada nas boas ideias.
Natasha Romanoff, a Viúva Negra, precisa enfrentar os fantasmas do passado enquanto foge do governo norte-americano por violar a lei. Durante sua trajetória, a protagonista reencontra os membros de sua família antes de se tornar uma Vingadora. Junto a Yelena (Florence Pugh), Alexei (David Harbour) e Melina (Rachel Weisz), Natasha tentará acabar de vez com a organização perigosa que mudou a sua vida.
A história se passa logo após os acontecimentos de Capitão América: Guerra Civil, uma decisão bem estranha e que escancara a produção confusa. Logo nos minutos iniciais, é possível perceber o quanto o filme não dialoga com nada que quer fazer. Existe falta de sintonia entre roteiro e direção. Por isso, o enredo é frouxo, sem ritmo e desprovido de desenvolvimento.
Por sinal, só pela narrativa se situar nesse espaço de tempo já enfraquece a história em si. Como sabemos o que vai acontecer depois, nada do que acontece nesse período importa e o filme não consegue se ajudar a ficar em pé sozinho.
O longa tenta explorar as ações da heroína no passado e suas consequências, o relacionamento conturbado com a família postiça, seu embate com um vilão misterioso e uma busca por redenção pelos erros que cometeu, porém nada disso tem força. Ao invés de querer focar em uma temática, o filme perambula entre essas e algumas outras sem se preocupar com o arco narrativo da protagonista.
No começo, há a impressão de que a história exploraria o lado emocional da última participação de Scarlett Johansson na Marvel. O objetivo seria mostrar o legado deixado pela atriz e, ao mesmo tempo, a passagem de bastão para Florence Pugh. Portanto, caberia aqui uma narrativa mais contida, enxuta e focada na jornada das duas.
Contudo, a premissa passa longe dessa proposta. A famosa ‘fórmula Marvel’ tomou conta do roteiro e acabou desperdiçando todo o potencial da heroína. Vemos um enredo pretensioso, cujo clímax também não é nem um pouco modesto, personagens-acessórios irrelevantes e um vilão completamente genérico. Os eventos vão se desenrolando de forma desorganizada sem preocupação com o ritmo ou a coerência para que no fim tenha uma cena de ação grandiosa.
Infelizmente, o longa não apresenta muitos pontos positivos. As cenas de ação, por exemplo, foram um outro desperdício de potencial. Pela primeira vez na Marvel, temos um filme de super-herói sem superpoderes ou tecnologias mirabolantes, abrindo espaço para inúmeras possibilidades. Vemos cenas que poderiam facilmente beber da mesma fonte de Missão Impossível, 007 e John Wick, porém o filme decide seguir o caminho mais genérico possível. O gênero de espionagem acaba sendo completamente mascarado pelas características formulaicas da Marvel. Nem mesmo os efeitos visuais se salvam.
O melhor atributo do filme, sem dúvida, vai para as ótimas performances do elenco de peso, principalmente Florence Pugh. A jovem atriz é bem convincente no papel e traz um grande destaque ao filme. David Harbour também está muito bom. Apesar de seu personagem não agregar tanto valor, o ator possui um carisma contagiante, roubando a cena em diversas ocasiões. Scarlett Johansson, por sua vez, procurou trazer uma performance mais introspectiva. Como sempre, a atriz demonstra seu ótimo talento, porém o tom mal ajambrado e o ritmo descompassado do longa ofuscaram seu brilho.
Fora isso, deu para perceber o desgaste da Scarlett Johansson em viver a Vingadora, apesar de ela também ter participação como produtora executiva. Ainda bem que a atriz já está em novos projetos. História de um Casamento e Jojo Rabbit, ambos excelentes filmes, são apenas o começo de um novo ciclo.
Basicamente, Viúva Negra foi um grande desperdício em todos os aspectos. Vemos um compilado de ideias mal aproveitadas se escancarando em uma produção feita nas coxas. No entanto, é um filme assistível mesmo com tanta coisa negativa. Diverte em alguns momentos e a cena pós-créditos empolga para as próximas produções. Fora isso, não tem muito valor.
No fim das contas, seria melhor nem ter saído do papel, já que serviu apenas para cumprir tabela. Novamente um filme da Marvel feito exclusivamente para fins comerciais, usando da mesma fórmula saturada.
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