
O longa-metragem Vitória começou a ser produzido há alguns bons anos, ainda sob a batuta do diretor Breno Silveira. O cineasta, porém, faleceu repentinamente em 2022 e o longa-metragem, por sorte, não foi abandonado -- Andrucha Waddington assumiu o projeto. Agora, o filme chega às salas de cinema já nesta quinta-feira, 13 de janeiro, cercado de muito expectativa.
Afinal, por mais que a história não tenha nada a ver, é difícil pensar em Vitória e não pensar no sucesso de Ainda Estou Aqui. O novo longa-metragem, por exemplo, conta com Fernanda Montenegro no papel da protagonista, essa senhora idosa que decide agir para reprimir criminosos e traficantes que ficam em um favela logo à frente de sua janela, até então impunes.
Além disso, Waddington é marido de Fernanda Torres -- e a acompanhou durante toda a temporada de premiações. Mas é isso, e apenas isso. Não há mais conexões entre um filme e outro. São histórias diferentes, propostas diferentes e, claro, ideias totalmente distintas.
O novo longa-metragem, afinal, parece prezar pela simplicidade da história. Com Fernanda Montenegro carregando o filme nas costas, Vitória é a história que é: uma senhora lutando contra criminosos apenas com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. É bonito ver a atriz nonagenária se esforçando na tela, até mesmo com um forte desempenho físico.
No entanto, o roteiro pesa a mão em simplificar demais a história. Tudo é muito fácil, rápido, simples. Dona Nina -- que é o nome real da personagem -- quer fazer algo e faz. Não há nenhum criminoso tentando ativamente descobrir quem está filmando o grupo e, quando isso acontece, não há qualquer tipo de consequência. Tudo é explicado de maneira simplista.
Isso acaba tirando demais a carga dramática da coisa, e até mesmo a tensão que o filme poderia ter, já que tudo parece fácil de resolver. Tentam impedir que as fitas cheguem na mão de alguém? Pluft, há uma solução. A milícia está de olho na Dona Nina? Sem problemas, o filme terá uma única cena mostrando essa ameaça e, logo depois, as coisas voltam a se aprumar.
Waddington foge da complexidade, seja visual ou narrativa -- até mesmo as metáforas são pobres, como a de uma xícara que quebra e nunca mais é a mesma. Cinema menos ousado.
Além disso, é preciso sim discutir a questão da cor da protagonista. Quando falei sobre isso no Letterboxd, já veio gente indignada apontar que a produção não sabia a cor da pele da Dona Nina real, que é Fernanda Montenegro. E tudo bem: isso tudo pode ser verdade, mas é incômodo o fato de que todos os personagens ao redor de Nina são negros, menos ela. É como se todos os personagens estivessem mergulhados em criminalidade enquanto ela está lá como salvadora.
É problemático, sim. Ainda mais quando há um conflito de informações: o filme fala em um card, já nos créditos, que a produção não sabia a cor da pele da senhora da vida real, enquanto há outra informação circulando de que eles escolheram uma atriz para "despistar a verdadeira identidade". Balela: é um whitewashing, mesmo que a senhora real tenha aprovado a escolha.
Com isso, Vitória é um filme que exige reflexão. Seja pela importância da história, pela forma que o filme é contado ou pela questão racial. Tudo precisa ser refletido. Fernanda Montenegro carrega o longa nas costas, mas não salva o filme. E é melhor baixarmos as expectativas: não, não é filme de Oscar. É filme que merece ser assistido, mas nada muito além disso de fato.

