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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Visões do Império' traz olhar sobre período colonizador de Portugal


Especificamente aqui no Brasil, sempre pensamos em nossa condição de colonizado para falar sobre esse período em que países europeus saíram em busca de novas terras, oportunidades e riquezas. No entanto, poucas vezes pensamos: como ficou a história da colonização para os colonizadores? É justamente esse olhar e preocupação que surgem no bom Visões do Império.


O filme, que estreou na última quinta-feira, 10, começa de maneira bastante despretensiosa. Fala sobre a coleção de fotografias da época das colônias portuguesas, seja pelo olhar das pessoas que vendem as tais fotografias e até chegar aos que compram para colecionar. O que aquelas fotos dizem? O que as tornam tão importante? E, acima de tudo, quem são aqueles?


É a partir dessa última pergunta, e principalmente pelo entendimento do que aquelas pessoas fotografadas estavam sentindo, que Visões do Império se desenrola. A realizadora portuguesa Joana Pontes traz questionamentos sobre a ética daquelas fotos e o que realmente acontecia na rotina e na vida daqueles colonizados -- forçados a parecerem em uma vida leve, feliz e suave.

Há um bom ritmo no filme de Pontes, que deixa bons entrevistas (principalmente especialistas e pesquisadores) o tempo que for necessário na tela. Não há cortes repetitivos. Tudo caminha com tranquilidade, suavizando um pouco a dureza da temática. Obviamente, a problematização e a questão central não são tratadas de maneira leve. Apenas a condução ameniza a aspereza.


E isso é central na estratégia do discurso de Pontes. Oras, um dos maiores problemas da política (principalmente a de esquerda) nos últimos anos é afastar o discurso. Tentam apontar erros nos discursos, mas sem abrir o espaço de conversa. E é justamente isso que a diretora faz: sabendo da dificuldade em levar seu discurso e suas ideias para além, faz Visões do Império ter calma.


Há, porém, problemas no longa-metragem. As longas entrevistas às vezes são calmas demais. Fica muito tempo na mesmice, no marasmo. Isso afasta o espectador que quer ter mais informações do que reafirmações. Lá pelos 50 minutos do longa-metragem, de apenas 90 de duração, já sentia um cansaço e uma impressão de que as coisas não caminhavam tão bem.


Afinal, uma coisa é ter calma, outra é mergulhar em um marasmo. Faltou, assim, a sensação de limite para Visões do Império. Ele sabe que precisa ser calmo, mas será que precisava disso tudo? O bom, porém, é que o filme questiona, cutuca, provoca, instiga. No final das contas, traz um olhar sobre Portugal, mas que fala muito sobre os colonizados -- inclusive nós, brasileiros.

 

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