Especificamente aqui no Brasil, sempre pensamos em nossa condição de colonizado para falar sobre esse período em que países europeus saíram em busca de novas terras, oportunidades e riquezas. No entanto, poucas vezes pensamos: como ficou a história da colonização para os colonizadores? É justamente esse olhar e preocupação que surgem no bom Visões do Império.
O filme, que estreou na última quinta-feira, 10, começa de maneira bastante despretensiosa. Fala sobre a coleção de fotografias da época das colônias portuguesas, seja pelo olhar das pessoas que vendem as tais fotografias e até chegar aos que compram para colecionar. O que aquelas fotos dizem? O que as tornam tão importante? E, acima de tudo, quem são aqueles?
É a partir dessa última pergunta, e principalmente pelo entendimento do que aquelas pessoas fotografadas estavam sentindo, que Visões do Império se desenrola. A realizadora portuguesa Joana Pontes traz questionamentos sobre a ética daquelas fotos e o que realmente acontecia na rotina e na vida daqueles colonizados -- forçados a parecerem em uma vida leve, feliz e suave.
Há um bom ritmo no filme de Pontes, que deixa bons entrevistas (principalmente especialistas e pesquisadores) o tempo que for necessário na tela. Não há cortes repetitivos. Tudo caminha com tranquilidade, suavizando um pouco a dureza da temática. Obviamente, a problematização e a questão central não são tratadas de maneira leve. Apenas a condução ameniza a aspereza.
E isso é central na estratégia do discurso de Pontes. Oras, um dos maiores problemas da política (principalmente a de esquerda) nos últimos anos é afastar o discurso. Tentam apontar erros nos discursos, mas sem abrir o espaço de conversa. E é justamente isso que a diretora faz: sabendo da dificuldade em levar seu discurso e suas ideias para além, faz Visões do Império ter calma.
Há, porém, problemas no longa-metragem. As longas entrevistas às vezes são calmas demais. Fica muito tempo na mesmice, no marasmo. Isso afasta o espectador que quer ter mais informações do que reafirmações. Lá pelos 50 minutos do longa-metragem, de apenas 90 de duração, já sentia um cansaço e uma impressão de que as coisas não caminhavam tão bem.
Afinal, uma coisa é ter calma, outra é mergulhar em um marasmo. Faltou, assim, a sensação de limite para Visões do Império. Ele sabe que precisa ser calmo, mas será que precisava disso tudo? O bom, porém, é que o filme questiona, cutuca, provoca, instiga. No final das contas, traz um olhar sobre Portugal, mas que fala muito sobre os colonizados -- inclusive nós, brasileiros.
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