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Bárbara Zago

Crítica: 'Vingança' é filme que agrada apenas públicos específicos


Quando me proponho a fazer uma crítica, tento ao máximo manter uma posição neutra e diferenciar a qualidade de um filme do meu gosto pessoal. Um longa pode não fazer meu perfil, mas sou capaz de reconhecer quando é bom, e o inverso também acontece. Exemplo disso é o próprio Pulp Fiction (ou qualquer filme do Tarantino); apesar de nunca ter sido fã de violência, principalmente quando tem a intenção de ser o mais explícita possível, reconheço que é um clássico e não tiro seu mérito. Vingança, que parece ter se inspirado em Tarantino no quesito violência, também não me apetece. Mas passa longe de ser bom.

A trama do novo filme da diretora Coralie Fargeat é quase nula, além de contar com pouquíssimas explicações sobre o que acontece. Basicamente, mostra a relação extraconjugal de Jen (Matilda Lutz) e Richard (Kevin Janssens) durante alguns dias no meio de um deserto. O relacionamento do casal parece ser basicamente sexo, contando com uma grandiosa conversa sobre a bunda da mulher. Quando dois colegas de trabalho chegam, também sem explicação, à essa casa enorme em que Richard e Jen estão, imediatamente ficam loucos por ela. A primeira parte do filme se constitui unicamente de cenas que retratam a bunda de Jen e os três homens babando por ela.

Aparentemente, o início do filme é uma espécie de crítica ao machismo e à ideia de "a mulher mereceu", mas não sei dizer até que ponto convence. Após Jen se recusar a envolver-se com um dos colegas de seu amante, ser estuprada e ameaçar contar tudo para a família de Richard, o gênero exploitation começa com tudo: os três homens a jogam de um penhasco e ela é empalada por um tronco de árvore. A cena, assim como todo o longa, é intensamente violenta, dando enorme enfoque ao aspecto visual. A diretora faz questão de gastar um tempo significativo retratando formigas se alimentando do sangue da mulher, por exemplo. O grande erro de Vingança se dá no momento em que Jen consegue sobreviver àquilo, algo humanamente impossível. Passou a sensação de que Fargeat não soube dosar com equilíbrio a mistura entre realidade e fantasia. Não apenas a protagonista sobrevive, como consegue se recuperar e ir atrás de vingança.

O grande aspecto positivo do filme, de fato, é a mudança da personagem. Ela nos é apresentada no começo como apenas um rostinho bonito. Conforme o filme prossegue, ela adquire de forma natural um aspecto mais guerreira, lembrando um pouco Angelina Jolie em Lara Croft. No entanto, Vingança aposta numa violência explícita, e muitas vezes desnecessária, além de cenas com um toque psicodélico, lembrando a ideia proposta por Kubrick em Laranja Mecânica.

Aos fãs de exploitation, talvez seja um bom entretenimento. Mas os desavisados que, assim como eu, foram ao cinema na esperança de assistir um filme sobre traição e justiça, têm grandes chances de saírem da sala horrorizados. Vingança consegue executar bem determinadas cenas, em que os personagens mais parecem gato e rato, mas o teor explicito incomoda mais do que deveria e acaba por trazer uma sensação incontrolável de querer chegar ao final do filme. Falta minimamente uma história para atrair o público, além de não ser capaz de prender a atenção do espectador, ao menos que se trate de um fã do gênero específico.

 

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