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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Vingança a Sangue Frio' é divertido e inusitado filme de ação


Liam Neeson é "pau para toda obra", como dizem por aí. Fez dublagens em algumas divertidas animações (Aventura LEGO, O Que Será de Nozes), participou de comédia de besteirol (Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola, Ted 2), dramas intensos (A Lista de Schindler, Mark Felt, Silêncio) e, é claro, de filmes de ação insanos, como a trilogia Busca Implacável, O Passageiro e Sem Escalas. Parece que ele não pensa duas vezes antes de aceitar um papel que faça as pessoas se divertirem, refletirem e embarcarem em uma boa história. Vingança a Sangue Frio, estreia desta quinta, 14, é mais um caso.

O longa-metragem, dirigido pelo sueco Hans Petter Moland, não é original: é remake de um filme de 2014, chamado O Cidadão do Ano e curiosamente dirigido pelo próprio Moland. Ou seja: é uma adaptação norte-americana de uma produção sueca que continua sob cuidados da mesma equipe criativa. E isso é muito saudável para o filme. Ainda que a base da trama seja a mesma, Moland conseguiu inserir alguns ingredientes divertidos, enquanto outras bobagens foram suavizadas. O humor negro, aqui, está mais presente e a trama, curiosamente, está mais amarrada. Raro caso de um ótimo remake.

A história é bem parecida: Nels Coxman (Neeson) é um motorista que tem a responsabilidade de limpar as estradas de Denver, nos Estados Unidos, da neve que se acumula. Por conta da sua prestação de serviços, é escolhido como o cidadão do ano e tido como um pai e marido exemplar. No entanto, ele se revolta quando o único filho (Micheál Richardson) é morto a mando de um traficante da região, o estranho Viking (Tom Bateman), e começa a buscar vingança a qualquer custo, matando todas as pessoas que estiveram diretamente envolvidas no sequestro e homicídio do rapaz.

Quem entra em contato com o filme só pela sinopse acha, num primeiro instante, que se trata de mais um Busca Implacável, no qual Neeson faz de tudo para vingar algo de ruim que é feito a algum filho seu. Mas não. Curiosamente, Vingança a Sangue Frio remete mais às comédias Fargo e Numa Fria, que usam o inverno brutal e uma série de acontecimentos banais como gancho para uma situação maior e mais complicada. É um tipo de história inesperada para quem espera apenas tiro, porrada e bomba, como já é de costume na maioria das produções que envolvem Neeson, filho sumidos e ação.

Porém, quando a porradaria começa a pipocar na tela, não há quem bote defeitos. É violenta, com sangue espirrando para todos os lados e com a emoção na dose certa -- e apesar de Moland evitar closes exagerados nas cenas de luta ou de violência, serve bem aos que procuram esse tipo de diversão. O grande destaque da história, porém, é o inesperado humor. É bem dosado, poucas vezes falha em sua tentativa de fazer rir, e tem um ar non-sense que inova no gênero. Fazia tempo que o cinema de ação não produzia uma boa mescla com a comédia. Deve agradar os mais velhos, que buscam uma história mais contida, nem tão focada na violência ou na corrida contra o relógio.

É quase um filme de ação cult, por mais estranha e inusitada seja essa comparação.

De resto, as coisas funcionam em partes. Neeson está bem e encaixa no papel, como era de se esperar. O mesmo vale para Tom Bateman (Assassinato no Expresso do Oriente), que faz um vilão óbvio, mas divertido. No entanto, o resto do elenco não consegue entregar grandes atuações. Laura Dern (O Conto) é totalmente subaproveitada, com uma ou duas cenas interessantes. Em determinado momento, Emmy Rossum (O Dia Depois de Amanhã) parece que vai ganhar a atenção do filme, mas acaba passando desapercebida. Quem acaba segurando as pontas daí é o garotinho Nicholas Holmes.

Vingança a Sangue Frio é um filme inesperado. Tem boas piadas, uma história divertida e cenas de ação que animam e divertem. Não espere uma história profunda, cheia de bons momentos e reflexões, claro. Isso fica para os dramas de Neeson. Nem vá desejando por um clássico '"tiro, porrada e bomba", como o ator também faz. Aqui, a alma é o entretenimento despretensioso e bem feito. Quem embarcar no absurdo das situações, sem dúvidas, vai sair leve do cinema, com uma história para contar por aí.

 

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