Durante dez anos, a Marvel preparou o terreno. Usando opções interessantes e ousadas de personagens, a "casa das ideias" criou histórias, fez rir, fez emocionar e empolgou. Desenvolveu suas personagens e tramas com calma, planejamento e muito, muito cuidado. O resultado desse trabalho minimalista pode ser inteiramente visto em Vingadores: Guerra Infinita, que chega aos cinemas nesta quinta, 26, para iniciar a conclusão da fase três do estúdio.
A história parte de algo que já foi semeado ao longo de todos os outros filmes: Thanos, o "titã louco", quer juntar todas as jóias do infinito -- artefatos místicos que, quando reunidos, dão um poder sobre-humano ao seu detentor. O objetivo dele é dizimar grande parte da humanidade para que todos vivam num mundo mais sustentável, já que seu planeta natal caiu por conta do excesso de pessoas. No caminho do vilão, porém, está a equipe dos Vingadores.
Com essa premissa, já fica claro uma coisa: os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely (ambos de O Soldado Invernal) tinham que fazer um verdadeiro malabarismo para inserir todos os personagens do universo sem deixar a trama principal de lado. E eles fazem isso com louvor. A trama é costurada de um jeito natural, ainda que megalomaníaco, usando várias ambientações e intersecções, mas sem uma grande história por trás. Afinal, o cerne é o encontro.
Além disso, os irmãos Anthony e Joe Russo fazem, novamente, um espetáculo na direção. Assim como em Soldado Invernal e Guerra Civil, os dois cineastas não ficam no lugar-comum dos super-heróis. Aqui, há experimentações narrativas e até uso de um plano sequência nos primeiros minutos de filme. As cenas de ação, ainda que tenham um pouco de câmera tremida demais, empolgam. Nas cenas de guerra, a ação é grandiosa. Nas de luta, empolgante.
Falando em riscos, Guerra Infinita não tem medo de ir na contramão do que foi dito e especulado sobre o universo Marvel até então. Heróis são varridos do caminho, dando dimensão do poder de Thanos, e as coisas vão se encaixando na lógica do "titã" com uma naturalidade desconcertante. Teorias sobre as jóias e sobre o futuro de certos personagens também caem por terra. Não há clemência, não há a obediência à uma lógica. As coisas fluem, simplesmente.
Os heróis, enquanto isso, estão bem distribuídos nas mais de 2h30 de duração do longa. Ainda que Viúva Negra, Capitão América e Pantera Negra estejam um pouco de lado -- principalmente a heroína --, a maioria dos personagens possui um grande momento para chamar de seu, seja o Groot, o Homem-Aranha, o Rocket Racoon, o Doutor Estranho, o Thor, e por aí vai.
Mas é Thanos que segura o filme. Ele é a força motora por trás da história e que possui um arco dramático extremamente intenso. É, finalmente, a consagração de um vilão da Marvel nos cinemas, indo além até da força de Loki e Killmonger, de Pantera Negra. É um personagem completo, repleto de camadas e feito com um CGI incrível, que mostra nervos e veias no rosto saltando à medida que as coisas vão se desenrolando. Trabalho impecável de Josh Brolin.
Guerra Infinita ainda tem o mérito de causar um entusiasmo sem fim. Ao longo da história, a vontade é de levantar e aplaudir determinados momentos. Ainda que algumas piadas não encaixem e alguns arcos secundários tirem a explosão de certos momentos, o filme trabalha para gerar emoção. Este filme só é tão épico e grandioso, talvez, quanto Senhor dos Anéis. Realmente, não lembro de algo maior nesse período. É um espetáculo inédito no cinema, um evento sem proporções, e que deverá marcar a história do cinema por sua ousadia.
O final é um ponto controverso. Todos sabem que o longa-metragem é apenas a parte um de algo ainda maior, que será completado em maio do ano que vem com outro filme dos Vingadores. Mas a conclusão deste traz um gancho um pouco fraco, já que a sua resolução é óbvia, ainda que os meios de chegar até ela não o sejam. Muitos vão torcer o nariz e vão desmerecer o filme. Mas paciência. Sem dúvidas, isso será melhor explicado nos próximos filmes.
Assim, Vingadores: Guerra Infinita é um marco do cinema blockbuster. Consegue juntar grandes personagens numa trama grandiosa e que toma grandes proporções. Sim, eu percebi a repetição de palavras, mas não tem outro jeito de descrever este longa-metragem. É o início de um encerramento glorioso para uma saga cinematográfica que só mostra uma qualidade crescente. Agora, o difícil vai ser aguardar a ansiedade até o próximo filme. Um ano parece o infinito.
Kommentarer