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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Venom' é anticlimático e estranho, mas pode divertir


Homem-Aranha 3 chegou aos cinemas, em 2007, rodeado de expectativas. Afinal, os dois filmes anteriores agradaram -- e muito -- um público ávido por boas e divertidas histórias de super-heróis. No entanto, a conclusão da jornada de Tobey Maguire como Peter Parker foi um banho de água fria. Além do visível cansaço dos atores e a falta de inspiração do diretor Sam Raimi, houve excesso de vilões, que inchou uma trama sem foco e sem um propósito definido. Muito pouco para a conclusão da importante trilogia.

Agora, um dos vilões injustiçados em 2007 ganha um filme para chamar de seu: Venom, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 4, é o primeiro produto da Sony após a parceria firmada com a Disney/Marvel em 2016. Confusa em seus objetivos desde o começo, a produção acompanha a vida de Eddie Brock (Tom Hardy), um jornalista que vai do céu ao inferno após fazer uma investigação sobre uma empresa de foguetes.

É em sua pior fase, quando está sem emprego, sem dinheiro e separado da esposa Anne (Michelle Williams), que ele acaba contaminado acidentalmente pelo simbionte Venom, um alienígena-parasita que toma o corpo de Brock e o coloca no meio de uma trama de conspiração extraterrestre. Como lidar com a criatura? Como se defender das pessoas que querem capturá-lo? Ele deve manter uma boa relação com o parasita?

São essa questões que norteiam o longa-metragem, dirigido pelo fraquíssimo Ruben Fleischer (Zumbilândia) e roteirizado pelo quarteto Scott Rosenberg (Con Air), Jeff Pinkner (Jumanji: Bem-Vindo à Selva), Kelly Marcel (Cinquenta Tons de Cinza) e Will Beall (Caça aos Gângsteres). Oriundos de uma miscelânea bizarra de gêneros cinematográficos, os profissionais criativos de Venom poderiam criar um filme com um excesso de inspirações, anseios. Talvez uma mistura de comédia, ação, suspense.

Nada disso: o primeiro grande problema do filme sobre o simbionte é exatamente o contrário da questão central de Homem-Aranha 3. Não há uma grande história por trás e parece não haver grandes objetivos. Falta trama em Venom. Tal qual os filmes de super-heróis de quinze anos atrás, parece que não há uma ambição definida com a presença do vilão ali. A ausência do Homem-Aranha, agora de propriedade criativa da Marvel, também é sentida. Afinal, há um trabalho ainda mais complexo de humanizar um alienígena em formato de parasita. Não é simples de chegar no ponto certo.

Além disso, há pouca personalidade no longa-metragem. Veja os grandes heróis no cinema hoje em dia: o Homem de Ferro, por exemplo, é egoísta e com um humor satírico; o Deadpool não se leva a sério e exagera na violência; e o Homem-Aranha é ingênuo e amigável. Há marcas em cada um dos personagens. Em Venom, os roteiristas tentam colar uma personalidade autodepreciativa no alien que não funciona, além de arroubos do humor de Deadpool. Só esqueceram de avisar o diretor, que parece andar em outra toada, minando as cenas violentas e fazendo o filme para pré-adolescentes.

O roteiro demora a engrenar na história também. O simbionte é apresentado muito tardiamente e os vários pequenos e insignificantes plots são resolvidos em cinco minutos. Poderia ter espalhado as soluções ao longo da narrativa. Isso sem falar no rival de Venom. É péssimo, mal construído, pouco interessante, sem vida. O possível vilão da sequência, apresentado na cena pós-crédito, é muito mais intimidador do que ele.

O elenco também parece estar em descompasso, deixando tudo ainda mais estranho. Tom Hardy (Mad Max) faz um Eddie Brock sem muita vida e sem expressão. Ele até tenta, mas não vai pra frente. Falta alma na sua interpretação. Michelle Williams (Todo Dinheiro do Mundo) não se encaixa no papel e, muito menos, na trama como um todo. Está sobrando em cena. Jenny Slate (Hotel Artemis) e Riz Ahmed (O Abutre) estão só aceitáveis.

E aí você deve estar achando que o filme é uma catástrofe completa, certo? Nem tanto. Há algumas boas coisas ali. Primeiro: em alguns momentos, mesmo que involuntário, o humor funciona. Uma cena envolvendo um cachorro, uma autodepreciação de Venom e algumas sacadas rápidas de roteiro ajudam a quebrar o clima e a criar um filme mais amigável -- nada comparável ao humor da Marvel, porém. Além disso, grande parte das cenas de ação são boas, com aceleração, boa edição e direção aceitável. Só peca com alguns momentos Michael Bay demais ou câmera tremida em excesso nas lutas.

Vale destacar, também, uma trilha sonora funcional -- comandada por Eminem, em algumas das composições -- e um bom visual, principalmente numa cena de luta final.

Mas Venom, porém, deixa um gosto amargo na boca. Pode servir para passar o tempo e a divertir, quando visto superficialmente. No entanto, indo mais profundamente na questão, há problemas claros de ritmo, direção e direcionamento narrativo. Teria sido mais interessante se a Sony tivesse apostado no ótimo Vida como a história de origem do simbionte e tivesse deixado o filme do personagem para mais ação e história propriamente dita. E, quem sabe, um pouco de sangue, suspense ou, até mesmo, um terror de ficção científica. Um Alien na cidade. Faltou coragem e ficou na mesmice.

 

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