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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Uma Vida' é filme banal, mas que ainda consegue emocionar



Quantos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial existem? Melhor: quantos bons filmes sobre a Segunda Guerra Mundial existem? Respondendo a primeira pergunta: milhares. Já a segunda, podemos dizer que talvez duas dezenas. É bastante impressionante como são poucos os filmes sobre a Segunda Guerra que realmente se destacam e que saem da mesma coisa de sempre. O novo Uma Vida, estreia nos cinemas de quinta, 14, não se destaca. Mas pelo menos emociona.


Dirigida por James Hawes, conhecido por filmes para a TV como Enid e séries como Slow Horses, a produção conta a história de Nicholas Winton, um daqueles heróis da Segunda Guerra Mundial que muita gente não ouviu falar, mas deveria. O britânico, nas primeiras ofensivas de Adolf Hitler, resolveu se mexer: foi até Praga, de onde o nazismo se aproximava, e usou seus contatos e conhecimentos para salvar vidas. Foram quase 700 crianças enviadas para Londres.


A visão é unicamente a partir de Winton, seja na velhice, quando é vivido por Anthony Hopkins (de Meu Pai e O Silêncio dos Inocentes), ou na vida adulta, momento em que está salvando as crianças, quando é vivido pelo bem menos conhecido Johnny Flynn (de Emma. e O Alfaiate).


Não há uma tentativa de criar um filme realmente diferente do que estamos acostumados a ver. É um ato de heroísmo ocorrido durante a guerra e que lembra histórias que já vimos, como o premiado A Lista de Schindler -- também de alguém salvando judeus por meio da burocracia, mexendo em papeladas insuportáveis. É um drama como mandam os manuais: emoções pontuadas aqui e ali, uma jornada com dificuldades no caminho e coisas do tipo. Nada além.



O pior é que, conforme o tempo de filme passa, fica a sensação de que Uma Vida poderia ser muito mais do que é. Não vale ficar buscando alternativas narrativas para o que este longa-metragem poderia ser, já que ele é a visão de Hawes e dos roteiristas Lucinda Coxon (do oscarizado A Garota Dinamarquesa) e Nick Drake (de Romulus, Meu Pai) foi essa que vimos aqui. Mas apenas uma provocação: o filme cresceria muito em qualidade e intensidade se tivesse focado em uma só operação específica, deixando para revelar sua extensão só depois.


Fotografia é protocolar, sempre trazendo uma paleta de cores que não traz qualquer impacto para o que está sendo contado. A trilha sonora é bem britânica – orquestral nos momentos mais importantes, mas quase desaparece no restante. Difícil lembrar de um só acorde no final. Direção de arte vai pelo caminho de recriar cenários de destruição. Pode até ser competente, mas também não transmite personalidade, quiçá alguma ousadia. É quase um filme para a TV.


Mas isso tudo não significa que Uma Vida não consiga emocionar. Afinal, a história por si só é tão impactante, e interessante para aqueles que gostam de heróis da Segunda Guerra, que basta ser contada corretamente para as lágrimas correrem no rosto. Quando Hopkins chora, a sala de cinema chora junto – as fungadas e suspiros, já adianto, serão inevitáveis.


O astro, aliás, é o grande ponto alto. Por mais que Flynn se esforce como esse Nicholas Winton jovem, a alma do filme se encontra na sua velhice. Quando Hopkins aparece, sem saber o que fazer com seu passado, é quando o filme ganha alguns pontos a mais de importância. O ator de 86 anos sabe como modular suas emoções de confusão, sem saber como se desvencilhar de um passado que o persegue e o atormenta. E tudo desemboca no final que diz tudo sobre Uma Vida: difícil segurar as lágrimas com a cena, mas que não poderia ser mais banal.


 


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