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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Uma Questão Pessoal' é filme desconexo e sem emoção


Os irmãos italianos Paolo e Vittorio Taviani contam com uma filmografia extremamente irregular. Já apresentaram trabalhos realmente ruins, como Os Subversivos e Paixão e Pecado; outros medianos, como A Casa das Cotovias; e algumas pérolas marcantes de tão boas, como A Noite de São Lourenço e, principalmente, o clássico César Deve Morrer. Infelizmente, porém, os últimos dois trabalhos da dupla, antes da morte de Vittorio, se encaixam no primeiro grupo, com tramas lentas, desconexas e sem emoção.

Uma Questão Pessoal, que chega nesta quinta-feira, 13, aos cinemas brasileiros, é o derradeiro. Passado durante a Segunda Guerra Mundial, o longa-metragem conta um pedaço da vida de Milton (Luca Marinelli), um combatente rebelde ao regime fascista de Mussolini que se divide entre uma paixão não correspondida de Fulvia (Valentina Bellè), uma jovem solitária da região, e uma forte amizade com Giorgio (Lorenzo Richelmy), rapaz que também sente atrações pela moça e que é arregimentado na luta rebelde.

A trama dos irmãos Taviani, então, se envereda entre dois tempos: o pacato e bucólico, no qual Milton flerta com a garota e sente certo ciúmes da relação entre ela e Giorgio; e os combates enveredados durante a Segunda Guerra Mundial, quando tem que recuperar o amigo que está sob poder dos fascistas. São duas tramas extremamente destoantes e são conexão aparente. Há, sim, o conflito emocional pelo qual o protagonista passa, mas nada que mova uma história durante seus quase 90 minutos.

O pior de tudo, porém, é que as duas temporalidades não são interessantes. Na primeira, que mostra a relação de Milton com a garota, pouca coisa se salva. Os dois não tem química, ainda que Valentina Bellè (Maravilhoso Boccaccio) tenha uma luz própria que emana da tela. Além disso, as situações colocadas são artificiais e trazem pouco movimento para a trama, que acaba ganhando poderes de um real sonífero.

Já a trama da guerra e dos conflitos tinha muito potencial. Milton, o protagonista, teria que encontrar um soldado fascista para trocar, o quanto antes possível, pelo seu amigo capturado. É uma corrida contra o tempo, e que poderia elevar ainda mais a contradição de homem ciumento, mas amigo fiel. Só que é um potencial desperdiçado e que só ganha pontos pela boa fotografia e pela boa atuação de Marinelli (A Grande Beleza).

Há, também, uma interessante discussão sobre como a humanidade de cada um se comporta em situações extremas. Ainda que a discussão não seja aprofundada de maneira clara e conexa, é impactante ver as transformações dos personagens em tela de um tempo para outro. Talvez seja o grande e único atrativo de toda a produção.

No final, fica a tristeza de que a despedida de Vittorio Taviani do cinema seja em um filme tão desinteressante, desconexo, sem emoção e sem impacto. Para quem fez obras como César Deve Morrer e A Noite de São Lourenço, seria mais interessante terminar a carreira com outro filme digno de nota em seu currículo. Mas tudo bem: vale a pena se despedir do trabalho conjunto dos irmãos nos cinemas. E, depois, rever esses bons filmes para ficar com a memória marcada por talento e boas histórias no cinema.

 
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