Que acerto é a estreia da direção de Regina King em Uma Noite em Miami, atriz já premiada por sua atuação em Moonlight. Produção original e exclusiva do Amazon Prime Video, o longa-metragem é adaptação de uma peça homônima, escrita por Kemp Powers, sobre um encontro que ninguém sabe se aconteceu, mas que tem toda força possível pra tomar nossa imaginação.
Afinal, o filme recria o encontro que nunca aconteceu de quatro dos maiores ícones do movimento negro dos anos 1960: Malcolm X, Cassius Clay, Sam Cooke e Jim Brown. É uma conversa deliciosa, que qualquer um tem vontade de participar. Há, aqui, emoção, sentimento, medo, angústia. Felicidade com o que mudou, preocupação com o que continua na mesma.
A partir daí, mergulhamos a partir de Uma Noite em Miami na mente desses homens, conforme o que Kemp Powers imaginou. Interessante notar como, mesmo se passando nos anos 1960 com personagens que morreram, o longa-metragem continua com discussões absolutamente atuais e que respingam em conversas que voltaram à tona graças ao Black Lives Matter.
O mérito disso fica diretamente com Regina King, que não aceita fazer desse filme apenas uma peça teatral filmada. Ela tem elegância na condução da trama, ajudando a destacar a amizade dessas quatro figuras e, principalmente, ressaltar aspectos do movimento negro dos anos 1960 que ressoam décadas depois. É um filme poderoso, urgente, elegante, necessário, preciso.
Uma pena que o elenco se prenda demais ao roteiro. Ainda que estejam bem em suas interpretações, principalmente Eli Goree (Raça) como Cassius Clay e Leslie Odom Jr. (Hamilton), os atores parecem que nunca deslancham em suas forças interpretativas. É aquilo: estão bem, mas parece que nenhum deles arrebata totalmente o espectador. Não atingem um nível acima.
Por fim, porém, compartilho da visão de Regina King de que este é um filme de amor, indiscutivelmente. Não do tipo clássico, mas que encontra na relação dessas figuras históricas uma forma de como a amizade pode ir além. A estreia da direção de Regina King impressiona, principalmente pela força da história. A vontade é conversar com eles, por mais de uma noite.
Creio que você tem razão quando diz que os quatro atores parecem contidos, mas vale o sonho que forças tão diferentes que lutam por uma mesma causa poderiam um dia encontrar-se...