O cineasta Asghar Farhadi é um mestre em criar dilemas morais em tramas rocambolescas que vão se complicando. Enquanto os irmãos Coen trabalham essas mesmas situações a partir do humor, o iraniano trabalha no drama, na desmoralização social, no caos. Foi assim com A Separação, O Apartamento e, agora, com Um Herói, que chega aos cinemas na quinta-feira, 28.
Nesta história, Farhadi fala sobre Rahim (Amir Jadidi), um homem que está preso por conta de uma dívida que não consegui pagar. Ele vê uma luz no fim do túnel, porém, quando sua companheira encontra uma sacola com moedas de ouro que pagariam metade da dívida e que livrariam Rahim da prisão. Neste momento, porém, Um Herói traz a dose de questão moral.
Será que é correto usar o dinheiro para pagar uma dívida própria? Ou será que o certo é ir atrás do dono dessas moedas? É a partir dessa decisão que o filme começa a se desdobrar em questões que surpreendem. Com roteiro original de Farhadi (que foi acusado de plágio no Irã), o longa-metragem vai colocando camadas nessa decisão, deixando tudo ainda mais complexo.
O mais interessante, porém, é que Um Herói mantém os acertos dos outros filmes do diretor iraniano e colocam o espectador na roda dos questionamentos morais. Farhadi acerta tão bem na direção que, em determinado momento, nós começamos a condenar certas ações e, na outra ponta, passamos a nos questionar -- será que essas dúvidas são válidas? Devo ter dúvidas?
A atuação de Amir Jadidi (Zero Day) é certeira: seu sorriso constante, até mesmo um tanto quanto mecânico em alguns momentos, ajudam a trazer esses questionamentos e a tornar tudo mais nebuloso. Afinal, se o personagem fosse ingênuo e inocente o tempo todo, o espectador não entraria na roda dos questionamentos e ficaria vendo essa história de fora, sem reflexão.
O problema central aqui é que, enquanto A Separação e O Apartamento brincam mais com a narrativa da coisa, Um Herói anda em círculos: parece que a coisa não avança, a não ser pela catástrofe ao redor do personagem. Há um quê de artificial nisso tudo também, algo não visto antes no cinema de Farhadi, adotando algumas conclusões que são questionáveis.
Um Herói, assim, é um filme menor de Asghar Farhadi: menos combativo, mais cansativo. Menos ousado, mais repetitivo. Ainda assim, porém, a forma como o diretor levanta questões morais dentro da sociedade iraniana elevam o filme e o coloca em um outro patamar dentro do que vem sendo produzido hoje em dia -- tudo cada vez mais chato, mais careta, mais óbvio.
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