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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Ultraje' é documentário sob medida para fãs da banda


Muitos conhecem a Ultraje a Rigor, atualmente, como a banda de palco do programa The Noite, do Danilo Gentili -- e, por vezes, por conta das polêmicas que o vocalista Roger Moreira causa por aí. Mas ela é muito, muito, muito mais do que isso. Além de ser dona de hits como Nós Vamos Invadir Sua Praia, Inútil, Ciúme e Marylou, a Ultraje foi uma das responsáveis por abrir a cena do punk rock em São Paulo e abrir esse gênero musical para o Brasil. "Quando a gente começou, nem tinha equipamento preparado para o que a gente ia fazer. Demorou uns 10 anos para os estúdios se adaptarem", contou Roger durante um bate-papo na ocasião de lançamento de Ultraje.

Dirigido por Marc Dourdin (Monstros do Ringue), o documentário narra o surgimento, desenvolvimento e atual configurações da banda. Com trajetória linear e sem muitas surpresas narrativas, o filme se prontifica a ser um documento excepcional para os fãs do grupo e das canções. É aquela típica produção que não se aventura a ser algo complexo ou grandioso. É, simplesmente, um jeito de documentar todo esse caminho percorrido por Roger e os outros diversos integrantes, enquanto também agrada os fãs ao dar detalhes que antes podiam ser desconhecidos, raros ou pouco difundidos.

O filme inteiro aqui, afinal, é resolvido com base em entrevistas e imagens de arquivo. Sobre este primeiro ponto, também poucas surpresas. A grande maioria dos entrevistados são ex-integrantes ou pessoas intimamente relacionadas à banda -- como o empresário, um ou outro familiar e donos de gravadoras. Não há muitos riscos tomados pelo cineasta. Não há críticos musicais, não há historiadores da música, não há líderes de outras bandas do cenário punk rock. É, definitivamente, uma história sobre a Ultraje e nada mais. E, curiosamente, as polêmicas não ficaram de lado mesmo assim.

Vez ou outra, alguns integrantes apontam desavenças e momentos complicados que envolveram Roger e, de vez em quando, alguns outros integrantes. É até estranha a forma que tratam temas delicados como um possível abuso de menor, a briga de Roger com a esposa de um ex-integrante e até o orgulho que Danilo Gentili, por exempla, fala sobre a banda receber uma Miss Plus Size no programa de entrevistas com a música-tema de Moby Dick. São coisas fortes e que acabam resultando em uma declaração ou outra, de fraco impacto. Fica estranho, desproporcional e perde um pouco do ritmo.

Também não há uma menção sequer às polêmicas políticas de Roger. Parece que isso não existe e que o vocalista, atualmente, é só um integrante do programa. Fica destoante e não faz muito sentido. Talvez fosse melhor se aprofundar nessas histórias. O documentário ficaria mais completo, saboroso e faria sentido para vários públicos.

O grande destaque aqui, porém, é o outro ponto que sustenta a narrativa: as imagens de arquivo. É absolutamente impressionante o que Dourdin fez aqui. Conseguiu reunir imagens de bastidores, raras e pouco vistas pelo público em geral, que revelam como é o dia a dia da banda e a intimidade do backstage. Fãs, sem dúvida, vão se emocionar. Além disso, o diretor conseguiu reunir uma gama impressionante de cenas e momentos da televisão brasileira envolvendo a banda. Tem Jô Soares Onze e Meia, do SBT; tem Programa Raul Gil, especial na ilha Porchat, também do SBT; tem Faustão no Perdidos na Noite; tem o Ensaio, da Cultura.. É impressionante o que fizeram aqui.

Mas, ainda assim, Ultraje é um documentário para fãs, apenas. O foco de Dourdin, por mais que tenha feito um trabalho invejável de imagens de arquivo, é contar a história da banda passando por cima de polêmicas sem se aprofundar e sempre enaltecendo o que o Ultraje fez. Público de fora, sem dúvidas, não vai gostar e vai acabar se decepcionando. Não há ousadia no que é contado, não há visões múltiplas, não há nada fora do normal, original ou ousado -- como era a cara do Ultraje nos anos 1980. É um carta de amor à banda e que deve deixar os fãs de olhos marejados. Mas para por aí.

 

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