Susto no Limoeiro. Floquinho, o cachorro do Cebolinha (Kevin Vechiatto), desapareceu durante a noite, sem deixar rastros. Desesperado para resgatar seu animal de estimação, ele reúne os amigos Cascão (Gabriel Moreira), Magali (Laura Rauseo) e, claro, Mônica (Giulia Benitte), que saem numa busca desenfreada pelo bairro e além para achar o cachorrinho verde. Esta é a trama do primeiro live action da Turma da Mônica, Laços, que leva pras telonas os personagens queridos criados por Maurício de Sousa.
Já a responsabilidade fazer essa adaptação funcionar ficou a cargo de Daniel Rezende, indicado ao Oscar por seu trabalho na edição de Cidade de Deus e que, recentemente, surpreendeu na direção do excelente Bingo. Aqui, porém, nada de favelas, tráfico, drogas e palhaços viciados. Rezende mergulhou de cabeça na história da Turma da Mônica e, mais especificamente, na trama da graphic novel Laços, que deu origem ao filme, para conseguir juntar leveza, diversão, aventura e nostalgia envolvendo esses personagens.
E, felizmente, deu muito certo. Turma da Mônica: Laços é tudo que os fãs podem querer nas telas do cinema. São vários acertos, em sequência, que surpreendem e criam um clima agradável. Primeiro, e o ponto de maior temor do público, são os atores. Estreantes, eles tinham uma responsabilidade enorme nas costas de adaptar personagens que já estão no imaginário popular brasileiro e que possuem características muito bem definidas. Cebolinha e os Ls, Mônica e a braveza, e por aí vai.
E, surpreendentemente, o quarteto entrego um trabalho coeso e em sintonia. Gabriel Moreira e Giulia Benitte são as duas grandes revelações, entregando um Cascão e uma Mônica que não deixam nada a dever para as histórias em quadrinhos. Conseguiram encarnar tudo que seus personagens exigiam. E mais: Giulia ainda vai além e trafega entre emoções de uma maneira arrasadora. Vontade de ver mais essa dupla em cena.
Já Rauseo, como Magali, aparece menos. Está bem, sem nenhum grande problema, mas há pouco destaque para a personagem, que já é naturalmente coadjuvante nas páginas do gibi. Só Vechiatto fica um pouco atrás do elenco. Talvez pela dificuldade a mais em trocar os Rs pelos Ls, o ator acabou deixando algumas gags tomarem conta durante as cenas. Mas nada que atrapalhe ou coisa do tipo. Funciona, no geral. As participações especiais também são agradáveis -- principalmente Rodrigo Santoro como o Louco.
Segundo ponto que funciona: a boa ambientação do Limoeiro. Sem dúvidas, não foi fácil transpor os traços da criação de Maurício de Sousa para o mundo real. Há uma estética no desenho que não tem como ser transposta com veracidade para um filme de live action -- senão, acaba virando uma esquete dentro do antigo parque da Turma da Mônica. Mas Rezende, o designer de produção Cassio Amarante e a chefe do departamento de arte Mariana Falvo fazem trabalho impressionante para recriar esse ambiente tão querido e familiar, transitando bem entre gibi e realidade proposta ali.
Por fim, há de se ressaltar a alegria que é sentida no trabalho de Rezende ao comandar essa história. Não é algo fácil, obviamente, já que ele precisa lidar com crianças e cachorros -- uma dupla explosiva nos cinemas. Mas o talento dele exala ali. A câmera faz passeios pelos ambientes, geralmente vindo de cima para baixo. Isso ajuda a mostrar a pequenez dos protagonistas frente à imensidão da procura deles pelo pet. As cenas também são bem fotografadas e a música fecha o conjunto com chave de ouro.
Vale ressaltar, também, que apesar da tentação, o cineasta não exagerou nos easter eggs e nas participações especiais. Tem bastante citação de personagens, como o Jotalhão que aparece numa almofada ou o Chico Bento na banca de revistas, mas há poucas coisas que influenciam na trama. A mais forte é a participação do Louco (Santoro), que não estava na história original. Mas a sequência é tão boa, tão bem feita e bem dirigida, que é difícil se incomodar. Dá um tempero a mais ao longa-metragem.
No final das contas, Turma da Mônica: Laços lembra a adaptação para os cinemas de Meu Pé de Laranja Lima. Há inocência, há boas histórias, algumas lições, atuações interessantes. Falto algo aqui e ali, mas nada que comprometa. Este filme, afinal, chega em um momento mais do que necessário, no qual os brasileiros precisam ainda mais de inocência e, principalmente, exemplos de como o companheirismo faz as pessoas irem mais longe. Cebolinha, Mônica, Magali e Cascão possuem diferenças. Mas podem dar as mãos e ir além. E isso significa muito, principalmente sendo tão icônicos como eles.
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