Conto nos dedos quantas vezes realmente torci para que um filme fosse muito, muito bom. Afinal, meu trabalho como crítico de cinema não é torcer por algo, mas sim avaliar e aceitar o que o diretor, elenco, roteiristas e afins estão nos entregando. Mas não foi assim com Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo. Aqui, eu realmente torci para que o resultado final fosse bom.
Afinal, o elenco sofreu demais. Demais! Quando a Mauricio de Sousa Produções anunciou a troca de elenco, agora com Sophia Valverde, Xande Valois, Bianca Paiva e Theo Salomão, houve uma reação desproporcional nas redes sociais. As pessoas despejaram ódio no elenco, com menores de idade, e os atacaram insistentemente. Não queriam o novo elenco, mas o antigo.
Ver uma reação dessa me fez ultrapassar esse limite de nunca torcer por nada e, enfim, começar a colocar expectativa para que o novo filme calasse a boca de muitos por aí. Mas é uma pena: o novo longa-metragem, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 18 de janeiro, é ruim. E pior: não um ruim que tenta sempre acertar, mas um ruim que não sabe o que fazer.
Pra começo de conversa, a história é deslocada. Fala sobre uma ameaça sobrenatural que paira o Bairro do Limoeiro -- e que já tinha sido indicada em Lições. Assim, Mônica (Valverde), Cebola (Valois), Magali (Paiva), Cascão (Salomão) e Milena (Carol Roberto) precisam se unir -- como é de praxe nos filmes da Turma -- pra derrotar a tal ameaça enquanto enfrentam o medo de crescer.
Bonitinho, mas até a página dois. Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo tenta, desesperadamente, parecer descolado, apesar de não ser. O diretor Maurício Eça (de A Garota Invisível, Carrossel) transforma a história em uma trama vazia de suspense e terror, com esses amigos tentando vencer a ameaça sobrenatural, mas sem ter nada para além disso.
Toda a humanidade que vimos em Lições e Laços, e que fazem com que esses filmes sejam tão bons, se perde. O diretor e o roteiro, assinado por Regina Negrini (Cidade Invisível), Sabrina Garcia (Juntos e Enrolados) e Rodrigo Goulart (Um Tio Quase Perfeito), acabam perdendo totalmente esse ponto de conexão com o público. O filme vira apenas uma aventura genérica.
Pior: em momento algum parece ser uma aventura da Turma da Mônica. Sabemos quem são os personagens por conta dos nomes, não por conta da essência. Um amigo, na saída da sessão para a imprensa, disse que o longa-metragem poderia ser uma versão genérica de O Escaravelho do Diabo. E é verdade. Nada aqui, em corpo e alma, aponta para a Turma da Mônica.
E é aí que voltamos para a polêmica inicial, quando a internet se revoltou com a troca de elenco. A maioria dos atores está bem em cena e percebe-se que eles se gostam -- ainda que estejam longe, bem longe, de aparentar uma química real na tela. Ou seja: eles não são os problemas do filme, mas sim tudo que os cerca. Direção frágil de Eça, roteiro capenga, edição atrapalhada...
Assim, voltamos ao cerne da questão: o que motivou realmente a Maurício de Sousa Produções a fazer uma escolha tão incoerente (pra não dizer burra, realmente) de trocar a produção de filmes que estavam indo tão bem? Tirar Daniel Rezende da jogada para colocar profissionais que já mostraram, repetidamente, que não entendem de verdade o que é um filme infantil?
Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo é um erro grotesco. Não apenas por ser mal feito, mas por desprezar tudo de certo que foi feito antes. A ideia é que o filme seja uma quadrilogia -- e que bom! Mas fica a torcida para que a MSP abra os olhos e perceba os erros que cometeu nessa mudança. É preciso de pessoas que realmente saibam contar histórias juvenis.
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