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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Trem-Bala' é filme divertido que acaba errando pelo excesso


Antes de falar do filme em si, um relato: Trem-Bala, ainda que um tanto que fora da curva dentre os principais blockbusters do ano, estava tranquilamente no meu top 5 de títulos mais esperados de 2022. O livro original de Kôtarô Isaka é divertidíssimo, Brad Pitt dificilmente embarca em furadas e, acima de tudo, era um projeto muito original da Sony Pictures, que não está apostando apenas em franquias e continuações, mas em busca de histórias mais originais.


E, felizmente, o longa-metragem que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 4, é realmente divertido. Dirigido por David Leitch (Deadpool 2 e Atômica), Trem-Bala fala sobre o assassino profissional azarado Ladybug (Brad Pitt) que, em uma missão, embarca em um trem de alta velocidade no Japão para recuperar uma mala recheada de dinheiro. No entanto, obviamente, as coisas não saem como o esperado e ele encontra outros assassinos, como Tangerina (Aaron Taylor-Johnson), Limão (Brian Tyree Henry) e aquela sem cara de assassina, Prince (Joey King).


Nessa mistura de tantos perfis diferentes de assassinos, espera-se um filme maluco, insano, caótico. Em partes, é isso que existe no longa-metragem. Trem-Bala, a partir dessa trama quase kafkiana de Ladybug, que não entende o que está acontecendo ao seu redor, traz uma ação bem humorada, em que o caos predomina em cima da coesão. Isso causa aquele sentimento no público de ficar com um sorriso no rosto enquanto tenta entender o que está acontecendo ali.


É diferente de John Wick, filme dirigido por Chad Stahelski e Leitch, que traz uma ação ordenada e que faz sentido na tela. Enquanto isso, Trem-Bala oferece o caos no lugar da ordem. Muito disso ganha mais camadas também por conta da fotografia de Jonathan Sela (Cidade Perdida), neon e com uma câmera nervosa, e do design de produção de David Scheunemann (Deadpool 2), que consegue criar bons ícones para fazer com que o filme seja identificável, como a Momomon.

O elenco também está afinadíssimo. Ainda que Joey King (A Princesa) tenha um pouco de exagero em sua atuação, às vezes over demais, o resto do elenco tem bons momentos. Brad Pitt, como sempre, sabe como humanizar seu personagem, levando mais identificação a um assassino profissional azarado. Aaron Taylor-Johnson e Brian Tyree Henry também apresentam uma boa química em tela, rendendo momentos divertidos que fazem a trama fluir muito bem.


Só que Trem-Bala não é perfeito. É difícil entender o porquê de Leitch, ao lado do roteiro de Zak Olkewicz (Rua do Medo: 1978), ter inflado tanto a história, com mais de duas horas de duração. Pode parecer pouco perto de colossos como Jurassic World: Domínio, com suas 2h30, mas acaba tendo excessos. Um corte de vinte minutos na história não alteraria nada na experiência do filme e deixaria tudo muito mais fluído. Uma conversa de Limão e Tangerina, por exemplo, deveria ser engraçada, mas demora tanto para se desenrolar, que beira o insuportável no final.


Além disso, o final acaba ficando com um gosto de decepção. Os efeitos visuais são exagerados, são excessivos dentro da formatação da história e atrapalham a imersão. Ou seja: novamente no sentido contrário de John Wick ou de Atômica, em que as cenas são mais organizadas, limpas e sem complicações, Trem-Bala aposta no caos. Isso é legal até certo ponto. Em determinado momento, as coisas acabam se tornando cansativas. Poderia ter mais organização meio ao caos.


Ainda assim, porém, Trem-Bala é uma experiência eletrizante, principalmente se assistida em uma sala de cinema. Brad Pitt está em plena forma, em um dos melhores momentos de sua carreira, conseguindo sempre humanizar personagens "desumanizáveis". Há momentos realmente inspirados, como uma luta com espadas mais pro final, uma piada envolvendo uma abertura desastrada de uma maleta e uma morte aleatória, ali no meio, mas que conduz parte da trama. São sacadas que mostram como, apesar de erros, vale investir em novas ideias.

 

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