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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Tragam a Maconha' é bobagem divertida, mas desinteressante


Mocumentário é o nome dado aos filmes que imitam a estrutura de documentários. Ainda que a maioria se arrisque no gênero da comédia (como o genial Zelig), alguns se aventuram na ficção científica (Distrito 9), no terror (Cloverfield: Monstro) e no drama biográfico (Ainda Estou Aqui). O longa-metragem uruguaio Tragam a Maconha, apesar do nome e das suposições que pode trazer, aposta em zona segura e apresenta uma comédia morna, quase irregular, brincando com a situação uruguaia com a marijuana.

A trama, assim, apresenta a fictícia Câmara Uruguaia da Marijuana Legal. Comandada pelo farmacêutico Alfredo Rodriguez (Denny Brechner), e com a ajuda de sua mãe (Talma Friedler) e do chefe da polícia (Tato Olmos), a tal Câmara vai aos Estados Unidos para tentar levar maconha ao país sul-americano. Afinal, o então presidente José "Pepe" Mujica conseguiu emplacar a legalização da maconha, mas não consegue criar uma produção ampla e contínua pelo País, equilibrando a balança entre venda e demanda.

Tragam a Maconha não tem uma trama complexa, tampouco uma direção criativa ou espirituosa do próprio Danny Brechner. Muita coisa parecida já foi feita por aí. A diferença está na presenta de espírito de colocar o próprio "Pepe" Mujica no filme. Com um bom-humor inacreditável, o ex-presidente aceita participar do filme e se tornar uma espécia de personagem. É ele, afinal, que dá a ordem da Câmara Uruguaia da Marijuana Legal ir para os EUA para procurar a erva para cultivo. Poucos políticos ao redor do mundo teria o desprendimento de rir de si próprios e participar de uma paródia dessa.

Denny Brechner, que comanda tudo no filme, não tem grandes sacadas humorísticas. É o mais sem graça do grupo, o mais protocolar, e não consegue fazer riso a partir das situações que entram nos EUA. Fica até difícil ver o quão longe a produção foi longe nas mentiras que contou para os participantes do filme. É a dupla Talma Friedler e Tato Olmos que ajuda a causar riso com situações absurdas e divertidas. Uma sequência na embaixada uruguaia nos EUA e numa festa com jovens são os pontos altos do humor.

Além desse riso esporádico, então, fica difícil entender qual o objetivo dessa bobagem divertida e inesperada. Não causa reflexão -- afinal, poucas vezes os protagonistas ou os "entrevistados" falam sobre benefícios da legalização -- e nem provoca a audiência a pensar nos possíveis benefícios da legalização. São apenas pessoas falando mentiras sobre a maconha uruguaia, contando falsas verdades aos entrevistados e discursando sobre como o Uruguai foi o primeiro país do mundo a legalizar 100% a erva alucinógena.

Tragam a Maconha, então, é um filme divertidinho, inusitado pela participação de Mujica, e que pode fazer pessoas pensarem sobre a real legalização da droga ao redor do mundo -- afinal, será que foi legalizada mesmo se não pode transportar? Se é tão difícil cultivar? Mas, ainda assim, é uma reflexão muito rasa e que passa de maneira muito superficial à trama. É um filme vazio que tenta divertir apenas por suas mentiras. E até consegue em um momento ou outro. Mas fica a sensação de ser oportunidade perdida.

*Filme assistido durante a cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 

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