Vamos combinar: Top Gun: Ases Indomáveis, de 1986, não é um grande filme. Fruto de sua época, o longa-metragem é cansativo, com um fiapo de história, e poucos momentos realmente empolgantes. Mas pegou aquele espaço da memória afetiva de uma geração, permanecendo no imaginário coletiva. Por isso, é uma surpresa tão grande a qualidade de Top Gun: Maverick.
Dirigido por Joseph Kosinski, dos subestimados Oblivion e Homens de Coragem, o longa-metragem mostra Maverick (Tom Cruise), décadas depois dos acontecimentos do primeiro filme, voltando para a escola-base Top Gun. No entanto, agora não mais como um piloto prodígio, mas como o professor que deve preparar alunos como Rooster (Miles Teller) para uma missão.
Mesmo mais velho, Tom Cruise é a essência de Top Gun: Maverick e, principalmente, quem faz o filme ser tão superior ao que foi visto no longa-metragem de 1986. Enquanto na época ele estava apenas começando, tendo estrelado o mediano A Lenda, hoje ele é um A-List de Hollywood que, como diferencial, encara todos grandes desafios que aparecem na tela grande.
Ainda que muitos falem que isso seja excesso de risco, fica visível em Top Gun: Maverick como isso faz a diferença. As cenas nos jatos, que poderiam ser banais nas mãos de outros atores, se tornam impactantes, tensas e emocionantes com Cruise, de fato, pilotando as pequenas aeronaves. A câmera de Kosinski, aliás, nem precisa fazer muito esforço nesses momentos.
Além disso, o roteiro assinado por Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie traz uma história que, apesar de batida, empolga -- uma sequência específica, em que Maverick bate de frente com seu superior (Jon Hamm), é uma das mais empolgantes de 2022 até agora. Há um arco dramático bem definido, com pinceladas de Missão: Impossível e Star Wars.
Não poderíamos deixar de falar, também, da belíssima cena entre Cruise e Val Kilmer. O astro, como já foi contado no excelente documentário Val, enfrentou um grave problema de saúde e, por isso, tem hoje problemas na fala. Sua participação no filme, com isso, se torna mais do que apenas uma ponta, mas uma verdadeira homenagem à tudo que Val fez. Muito emocionante.
Deixando todos esses acertos de lado, encontramos alguns problemas bem sintomáticos de filmes do gênero. Há uma clara dificuldade na montagem das cenas de acrobacias aéreas, já que não são veículos tão facilmente identificáveis como em Velozes e Furiosos. Além disso, que trama mais furada, e sem pé nem cabeça, de Cruise com Jennifer Connelly! Jogada ao vento.
Mas isso não chega nem perto de arranhar o bom resultado de Top Gun: Maverick. Empolgante, divertido, imersivo. Daqueles filmes que valem o ingresso na maior tela que encontrar na cidade, já que as estripulias de Tom Cruise ficam ainda mais inacreditáveis na tela grande. E, no final, fica aquele inesperado gostinho de quero mais. E espaço pra isso tem de sobra nos cinemas.
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