Parece maldição: filmes baseados em videogames não vingam. Super Mario Bros., Mortal Kombat, Príncipe da Pérsia, Street Fighter, Assassin’s Creed, Need for Speed. Não há um caso de sucesso. E infelizmente, o novo Tomb Raider: A Origem, com Alicia Vikander, entra nessa lista. Não que o filme seja péssimo, pois não é. Nem é pior do que os dois filmes com Angelina Jolie encarnando o papel de Lara Croft. Mas fica abaixo do que a personagem pode entregar.
No novo filme, Lara Croft (Vikander) é uma garota rebelde que não aceita o sumiço e morte do pai (Dominic West), que saiu numa missão de exploração e nunca mais voltou. Mas as coisas mudam quando ela entra em contato com uma série de documentos envolvendo o pai e parte para uma viagem à China, em busca de pistas sobre seu paradeiro. Lá, então, ela acaba partindo numa missão com Lu (Daniel Wu) e enfrenta o ambicioso Vogel (Walton Goggins).
Pra começo de conversa, há um fato: Alicia Vikander caiu como uma luva no papel. Ela não deixa a personagem cair no estereótipo de mulher valentona e sexy, criando uma garota com rebeldia e força, mas com medo do que pode acontecer. É complexidade como pouco foi visto em personagens de videogames. E Vikander conta com força dramática oriunda de seus outros papéis (A Garota Dinamarquesa, A Luz Entre os Oceanos) que eleva a força de sua personagem.
Só com isso, Tomb Raider ganharia pontos frente aos primeiros filmes, que apresentava uma personagem absurdamente sexualizada e que tinha Angelina Jolie ainda com pouca experiência de carreira. Mas vai além. A direção do norueguês Roar Uthaug (do razoável A Onda) tem momentos inspirados, principalmente em cenas de ação. Ele usa planos abertos e amplifica o ritmo da história. Ainda abre espaço para Vikander fazer o que sabe na frente das câmeras.
Há, porém, alguns exageros que não deixam a direção ser totalmente aceitável, como a falta de reação em alguns acidentes envolvendo Croft. Faltou humanizá-la mais com uma direção acertada. No final, Roar Uthaug é apenas bom.
No entanto, Tomb Raider: A Origem tem um problema que derruba a força de Vikander e a boa direção de Uthaug: o roteiro preguiçoso da estreante Geneva Robertson-Dworet e de Alastair Siddons (Não Ultrapasse). É uma história ultrajante à inteligência do espectador. A começar pelas soluções fáceis empregadas para resolver enigmas que poderiam render boas tramas. Por exemplo: Croft descobre uma informação misteriosa para a resposta estar num post-it.
Além disso, muitos personagens são mal-desenvolvidos. O antagonista vivido por Walton Goggins (Os Oito Odiados) é raso como uma poça da água. Sua motivação é fraca, banal e pouco desenvolvida. É apenas uma peça no xadrez a ser eliminada nesse filme para criar a origem da personagem. Lu Ren e o pai de Croft também não contam com camadas. Parece que todos esforços foram para Lara e não restou nenhuma boa criação de personagem pros demais.
O roteiro só é levemente redimido com o final, que conta com uma boa surpresa e que deve abrir um bom caminho para os filmes futuros da personagem. Afinal, o estúdio conseguiu fazer o que precisava: encontrou a atriz perfeita, acertou no tom da personagem e criou um universo interessante, ainda que enfraquecido pelo roteiro. Mas o futuro parece promissor. Quem sabe, num possível próximo filme, Lara Croft enfim quebre as maldições dos games? Nada é impossível.
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