Paulo José sempre foi um dos atores mais completos de sua geração, entregando atuações fascinantes e de uma simplicidade tocante, que ultrapassa a barreira das telas e palcos. Assim, é extremamente justa a homenagem que o documentário Todos os Paulos do Mundo -- em referência ao clássico filme Todas as Mulheres do Mundo, do Domingos de Oliveira -- faz ao artista que completou, recentemente, 80 primaveras e 50 anos de profissão.
No filme, os diretores Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira (do irregular As Horas Vulgares) optam por uma narrativa pouco convencional. Enquanto mostram cenas da filmografia de Paulo -- como O Padre e a Moça e Macunaíma e indo até O Palhaço e Saneamento Básico --, uma narração sobre a vida do ator, escrita por ele próprio, é interpretada por diferentes nomes da dramaturgia brasileira, como Fernanda Montenegro, Joana Fomm e Flávio Migliaccio.
O cuidado da pesquisa e da seleção de imagens é interessante. Em meio ao aparente caos, há uma organização quase capitular -- e que lembra um pouco o documentário A Música Segundo Tom Jobim. As imagens vão se sucedendo nas diversas mídias, mostrando Paulo José no teatro, na TV e no cinema, com destaque para este último. Há blocos de imagens envolvendo romances, violência e até diálogos de seus personagens que envolvem a prática do cinema.
É uma cadeia de imagens históricas para o cinema nacional que vão dando destaque para a atuação de Paulo José e mostra como o ator possui uma lógica em seus trabalhos com uma força e personalidade muito próprias. A narração, ainda que por vezes seja deslocada demais, também ajuda a compreender melhor a totalidade dessa figura tão importante para a dramaturgia. Emociona e, principalmente, documenta uma história de entrega tão forte e importante.
Há erros, porém, e, mesmo sendo uma belíssima homenagem, não podem ser esquecidos. Como não há, exatamente, um fio condutor ou uma trama para levar o espectador nos meandros da vida de Paulo José, o longa-metragem -- mesmo tendo apenas 80 minutos -- fica cansativo. A repetição excessiva de alguns filmes, por vezes, dão a sensação de que a produção está andando em círculos, ainda mais com a quase ausência de uma real linha temporal.
E apesar de despertar emoções -- principalmente nos momentos mais atuais de Paulo José, como numa cena de aniversário --, grande parte de Todos os Paulos do Mundo é um revival que se repete. Falta uma melhor coesão no que é apresentado, falta uma ousadia mais interessante que se justifique. Sim, o filme é pouco convencional, mas muito se perde numa inventividade que acaba diminuindo o acesso à produção. Só vai se emocionar quem conhece Paulo José.
Todos os Paulos do Mundo é emocionante, importante e interessante de assistir. Infelizmente, não é uma porta de entrada ao mundo desse ator tão fascinante e completo, e sim uma lupa na observação de suas interpretações. Mas, ainda assim, é um relato válido e que se torna definitivo em torno de sua figura. Quem gosta de cinema brasileiro, vai sentir dificuldade em segurar a emoção. E a torcida fica para que outros nomes tão importantes do cinema nacional ganhem homenagens como essa, que ajudam a eternizar a memória das artes brasileiras.
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