Concursos de soletração são um sucesso absoluto nos Estados Unidos. Afinal, por lá, crianças e adolescentes são incentivados desde o ensino básico a aprenderem os detalhes de cada uma das palavras do dicionário -- por mais difícil que seja. No entanto, nos últimos anos, essa imprevisível competição tem visto uma predominância nas vitórias: descendentes de indianos.
Essa população, que representa 1% da população norte-americana, ganhou todas edições desde 2008 do Concurso Nacional de Soletração Scripps, o mais prestigiado do País. Até mesmo em um dos anos, em que oito adolescentes venceram o concurso, sete deles eram indianos. E é sobre essa predominância que se debruça o interessante documentário Toda Palavra Conta.
Produção original da Netflix, o filme se debruça sobre as raízes dessa liderança dos indiano-americanos em concursos de soletração. Mais do que encontrar soluções fáceis, o documentário mostra detalhes do movimento migratório da Índia para os Estados Unidos, principalmente durante o governo Lyndon Johnson, e como isso traz impactos severos até os dias de hoje.
É interessantíssimo ver a habilidade dos participantes do concurso, que possuem um formato bem característicos e que acaba influenciando a concepção geral de Toda Palavra Conta. Afinal, depois de uma série de introduções, o documentário trata de colocar o espectador dentro desse universo e a sentir a pressão intensa que recai sobre esses jovens -- e até mesmo questioná-la.
Ainda que alguns dos entrevistados cheguem a ser irritantes, como toda criança muito superior aos seus colegas, também há boas entrevistas e análises de personagens. Sem dúvidas, é difícil criar empatia por todos -- principalmente por um pequeno competidor, que não consegue falar sobre sua habilidade de soletração sem se gabar. Mas, de resto, é um bom exercício social.
Enfim, Toda Palavra Conta fala sobre um universo de competição e preparação um tanto quanto distante da realidade do brasileiro, que só vê isso no programa Soletrando, do Caldeirão do Huck. No entanto, é difícil não se animar com algumas histórias, se emocionar em outras e entender melhor dos bastidores dessa competição que mexe com os ânimos dos americanos.
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