Nos últimos tempos, a comédia brasileira está enfrentando uma onda de sumiço do público nas salas de cinema -- falei disso em matéria no Estadão. Culpa, em parte, da qualidade desses filmes que, nos últimos tempos, apresentam produções bem abaixo da média. No entanto, uma boa surpresa chega aos cinemas nesta quinta-feira, 14: o divertido e leve Tire 5 Cartas.
Dirigido por Diego Freitas (conhecido por histórias mais densas, como O Segredo de Davi), o longa-metragem conta a história de Fátima (Lília Cabral), uma mulher que saiu de São Luís do Maranhão para o Rio para realizar o sonho de ser cantora. Mas, com o passar dos anos, o seu sonho ficou cada vez mais distante e ela se viu obrigada a trocar os palcos pelas cartas do tarô.
Só que as coisas ficam ainda mais complicadas quando Fátima se envolve em um crime e, desesperada, foge com seu marido (Stepan Nercessian) de volta para sua família em São Luís.
É, assim, um típico filme de volta às origens. Fátima é confrontada não apenas com as pessoas que deixou para trás, mas também com seus sonhos de uma jovem mulher que saiu da capital maranhense cheia de sonhos. Nesta altura da vida, voltando para seu berço, ela precisa se perguntar: será que valeu a pena? Será que sair de casa e ir em busca do sonho funcionou?
São perguntas que se aproximam do existencialismo, mas que param muito antes disso. Tire 5 Cartas, afinal, é um filme leve, pra cima, que quase nunca vai nos lugares obscuros que surgem aqui e ali. Muito disso também por conta da boa atuação de Lília (de Divã e Maria do Caritó), que coloca leveza em uma Fátima que, nas mãos erradas, poderia ser uma trapaceira qualquer.
Freitas também surpreende ao colocar uma boa dose de cultura brasileira aqui, indo desde a rotina de S. Luís do Maranhão até cultura popular com músicas (e surpresas) de Magal e Alcione.
O principal problema do filme mora na tal subtrama do roubo. Tudo bem que é o acontecimento que move a protagonista para voltar para sua casa, mas depois acaba se tornando uma subtrama excessiva. Sobra dentro de tudo que está sendo contado. Gostaria de ver mais histórias da pensão onde os personagens ficam, por exemplo, do que sobre os tais bandidos.
Ainda assim, porém, Tire 5 Cartas é um filme muito positivo -- um refresco no mar de coisas ruins que estão nascendo no meio da comédia brasileira. É original, divertido e, mesmo simples, corajoso em não tentar se complicar. Fora o espetáculo de Lília, sempre bem em cena.
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