Incrível como a Netflix quase nunca acerta em seus filmes e séries originais, mas tem um faro certeiro na produção de documentários e reality shows. No caso dos programas de entretenimento, é possível encontrar produções como Instant Hotel, Queer Eye e Sugar Rush -- todas excelentes. E, agora, entra mais uma para a seleta lista: o bom reality show The Circle.
Produção original da Netflix, e que em breve deverá ganhar a versão brasileira, o programa tem uma premissa inteligente: coloca desconhecidos num mesmo prédio, transformando-os em vizinhos. A grande sacada, porém, é que eles nunca se encontram. Sozinhos em seus apartamentos, eles criam perfis nas redes sociais e, por esta maneira, podem se comunicar.
Dessa forma, nada impede que alguém crie um perfil falso -- o chamado catfish -- ou, ainda, aja de maneira não compatível com seu comportamento. É a mágica da internet na tela da televisão.
Depois disso, para sair, a casa coloca todos os participantes num ranking de preferência. Os dois mais votados se tornam influenciadores e podem escolher um dos participantes para bloquear -- ou seja, eliminar do jogo. É, em resumo, um reality show de estratégia e relacionamento. Quem souber criar a melhor imagem nas redes -- e não, necessariamente, verdadeira -- ganha o jogo.
É interessantíssimo, ao longo dos 12 episódios do programa, acompanhar a evolução dos participantes e, principalmente, a forma como se relacionam nas redes. Por vezes, a estratégia fica logo aparente e, em outras, vai se revelando aos poucos. Isso dá um sabor diferenciado ao reality, que ganha em dramaticidade e dinamismo -- as situações mudam com um clique.
Interessante notar, principalmente, como este é um reality show que traz um certo tipo de questionamento. Mais do que observar estranhos o tempo todo, The Circle possibilita que o espectador entre na vibe do programa e pense nos efeitos das redes sociais. A máscara que usamos no Facebook e Instagram impactam nossas vidas. E aqui mostra isso na prática.
O único problema do reality, e que acaba tirando um pouco da graça, é a inserção de novos participantes ao longo da competição. Eles entram em clara desvantagem -- já que o grupo está formado -- e não se integram. Fica uma sensação estranha. Melhor seria criar dois grupos distintos e depois, quando laços já foram criados, juntá-los e ver a natureza humana em ação.
Além disso, a edição acaba quebrando um pouco da profundidade da história. Afinal, não dá para inserir o dia inteiro dos confinados em um programa de 50 minutos. Muitas coisas ficam de fora e é difícil perceber os laços que são criados entre eles. A noção de que alguns participantes são amigos surge só quando algo é verbalizado. Antes disso, poucas coisas são perceptíveis ali.
No fim das contas, porém, The Circle é um divertimento sob medida. A ideia é muito boa, é interessante notar a interação entre os participantes e, de alguma forma, há boas surpresas -- é ótimo ver como alguns participantes, um em específico, se transforma na frente das câmera. Agora é esperar para ver a produção brasileira. E que o entretenimento pipoca continue forte.
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