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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'The Assistant', do Prime Video, acerta ao tratar abuso no trabalho


Muito tem se falado ultimamente sobre abuso sexual, muito por conta de discussões mais que pertinentes trazidas por movimentos como Me Too e afins. No entanto, um ponto importante sobre abusivas relações humanos tem sido deixado de lado: o abuso moral e psicológico que é enfrentado no ambiente de trabalho, muitas vezes com relações tóxicas e prejudiciais.


E é exatamente sobre isso que se debruça o excelente longa-metragem The Assistant que, após um longo inverno, finalmente chega ao catálogo brasileiro do Amazon Prime Video. Dirigido e roteirizado brilhantemente por Kitty Green (Quem é JonBenet), o longa-metragem se debruça na história de Jane (Julia Garner), uma jovem que sonha em trabalhar na indústria do cinema.


Quando ela consegue um trabalho no meio, porém, vem o pesadelo. O ambiente todo é extremamente opressor, há exigências demais em cima dela e, de alguma maneira, Jane para de viver sua vida para se dedicar ao trabalho. Isso sem falar de abusos com outras pessoas que ocorrem a olho nu na frente de todos, inclusive sexuais. É um ambiente que vai na contramão.

A partir disso, Green nos coloca nessa rotina sufocante de Jane. Num artifício inteligente, não vemos o rosto do chefão da protagonista. Apenas ouvimos sua voz. Dessa forma, a cineasta faz com que esse personagem misterioso ganhe camadas na mente e nos sentimentos de cada um. O espectador, a partir de suas experiências, coloca o rosto que falta nesse personagem.


Além disso, Julia Garner (de Ozark e Somos o que Somos) está um espetáculo em tela numa das melhores atuações do biênio 2020/2021. Assim como Vanessa Kirby e Ellen Burstyn em Pieces of a Woman, seria de uma injustiça imensa se ela for esnobada do Oscar em 2021. Há potência em sua atuação, na forma como ela muda suas expressões conforme os sonhos desmoronam.


Green ainda tem sacadas estilísticas interessantes e que dão camadas à trama. Repare como a personagem parece estar sempre cercada -- há muitas cenas com homens ao fundo, principalmente os dois colegas de sala da personagem. Ou, então, há apenas um vazio, uma solidão. O desamparo da personagem e a falta de integração machucam. O público sofre junto.


The Assistant, assim, é daqueles filmes que não podem ser vistos de maneira impassível. Nos enxergamos na tela, vemos como já passamos por situações parecidas, torcemos pela personagem. Sofremos. É um filme catártico e que, sem dúvidas, já está garantido na tradicional lista de melhores do ano -- já estaria na de 2020, se tivesse sido distribuído por aqui antes.

 
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