Tarsila do Amaral foi (e é!) uma das maiores pintoras do mundo – do Brasil, é a maior. Afinal, seus traços refletem não só o modernismo, como também traz raízes brasileiras difíceis de expressar em uma tela, com um pincel. Fala sobre diversidade, fala sobre complexidade social, sobre cultura, formação antropológica. Por isso é tão bonito ver uma animação como Tarsilinha.
Estreia dos cinemas desta quinta-feira, 17, o longa-metragem conta a história de Tarsilinha, uma garota em um mundo inspirado na obra de Tarsila do Amaral. A aventura, que parece uma mistura de contos de fadas com Monteiro Lobato, mostra a garotinha explorando esse universo em busca das memórias da mãe, vítima de uma lagarta que rouba itens e memórias pessoais.
A partir daí, é belíssima a maneira que Tarsilinha vai entendendo esse mundo, entrando nas cores e traços de Tarsila. A dupla de diretores Celia Catunda e Kiko Mistrorigo sabe como conduzir essa personagem um tanto quanto genérica em um universo que a enriquece. O que ela vive, entende e sente faz com que sua personalidade se torne mais marcante e real.
Os animaizinhos que surgem no caminho também são bonitinhos e devem conquistar a criançada. O sapo cururu, por exemplo, tem um jeito de falar divertido, curioso e encantador. O saci é menos "gostável", por ter uma personalidade mais forte e menos infantil, mas ajuda o espectador a entrar ainda mais nesse banho de cultura brasileira que o longa provoca e causa.
Falando em cultura brasileira, temos ainda uma trilha sonora apaixonante comandada por Zeca Baleiro. A música tema, feita sob medida para o filme, é uma das originais mais belas do ano.
O único porém surgem com a estética da coisa. Tarsilinha conta com dois momentos distintos de imagem: primeiramente, em 2D; depois, quando ela entra no mundo mágico de Tarsila do Amaral, em 3D. Enquanto o primeiro é maravilhoso, o segundo é genérico. Diminui o impacto visual. Seria bem melhor se o filme tivesse um traço mais desenhado, como Tito e os Pássaros.
Dá um pequeno desânimo, ainda mais na transformação digital de alguns personagens – o macaco e a coelha são especialmente bizarros. Mas, apesar disso, Tarsilinha é uma delícia de filme. Infantil na medida certa, brasileiro como nunca. É uma animação que diverte as crianças e, ainda por cima, faz com que todos passem por um verdadeiro banho de arte brasileira.
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