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Michelly Cruz

Crítica: ‘Tal Mãe, Tal Filha’ brinda a liberdade e força feminina


A trama da comédia francesa Tal Mãe, Tal Filha gira em torno do relacionamento inverso que Mado, uma ex-dançarina desempregada, possui com sua filha Avril. Mãe ainda na adolescência, a personagem de Juliette Binoche é uma mulher livre e inconsequente, que se recusa a amadurecer. Já Avril (Camille Cottin), por sua vez, sustenta sozinha a casa que elas dividem e vive constantemente preocupada com o comportamento infantil de Mado.

O cenário, que até então soava natural para Avril, só começa a tomar outras cores quando ela e seu noivo anunciam que estão esperando o primeiro filho. Ao ouvir a notícia, Mado não reage como o esperado, parecendo enfurecer-se e por vezes estar disputando o espaço que sabe que não será mais seu, uma vez que agora sua filha também se tornará mãe. O que já parecia dar corda para uma boa narrativa se torna ainda melhor quando, inconformada por se tornar avó, Mado passa a noite com o pai de Avril, apesar de a filha acreditar que eles se odeiam, e também engravida.

Quando a personagem de Cottin descobre sobre a gravidez da mãe, o filme coloca em pauta um tema controverso e muito atual: o aborto. Sim, se colocando no lugar de mãe e julgando que Mado não conseguirá cuidar de outra pessoa, uma vez que ela mal toma conta de si própria, Avril exige que a mãe aborte a criança. De forma inversa, a filha representa pais que tomam a decisão sobre o corpo de suas filhas, decidindo o que deve ser feito sem consultá-las. Apesar do tom cômico do filme, a diretora Noémie Saglio e as atrizes conseguem trabalhar bem o tema, sem banalizá-lo ou carregando demais o filme.

Com delicadeza, os dois pontos de vista são abordados separadamente. Enquanto Avril lida com a culpa do que tenta impor a sua mãe, Mado, por sua vez, se debate ao decidir dar ou não continuidade a uma gravidez inesperada.

A gravidez de Avril, mas principalmente a de Mado, surgem no filme como pontos de mudança na vida das duas mulheres. Enquanto a filha passa a se dar conta de que precisa desacelerar e aproveitar mais as coisas, a mãe recebe a notícia como uma chance de retomar as rédeas e encarar suas responsabilidades de frente. Claramente feminista, a comédia trabalha com duas personagens fortes e opostas, procurando mostrar que existem diferentes tipos de liberdade e que o importante mesmo é que escolhas possam sempre ser feitas.

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