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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Tá Rindo de Quê?' é documentário nostálgico, mas caótico


Costinha, Dercy Gonçalves, Jô Soares, Chico Anysio, Ronald Golias, Manuel da Nóbrega, Renato Aragão, Mussum, Zacharias. É difícil lembrar de todos os grandes humoristas brasileiros do século passado. Criativos, irreverentes e sem amarras, eles ajudaram a estabelecer um humor tipicamente popular, que juntou vertentes do circo, do rádio, dos palcos e da TV -- e, em alguns casos, das letras e das notícias. Estava faltando, de fato, um documentário que examinasse toda essa diversidade e mostrasse o percurso do riso no Brasil de maneira franca, completa. Tá Rindo de Quê?, documentário que chega aos cinemas nesta quinta, 28, tenta fazer isso. Pena que não acerte em cheio, como deveria.

Dirigido por Álvaro Campos (do fraco Altas Expectativas), Cláudio Manoel (ex-integrante do Casseta e Planeta) e pelo estreante Alê Braga, o longa-metragem documental puxa para si a responsabilidade de mostrar como o humor se comportou durante a Ditadura Militar no Brasil, entre os anos de 1964 e 1985. É uma premissa que já está no subtítulo (Humor e Ditadura) e que se revela logo nos primeiros minutos, quando entrevistados como Boni e Daniel Filho dão um breve parecer sobre o que foi o Regime Militar, quais eram as sanções, os perigos e por aí vai. Ou seja: espera-se um documentário de conteúdo, quase educacional, sobre o riso tentando vencer a Ditadura em várias formas.

Mas não é assim que o filme se comporta ao longo de seus 95 minutos. Ainda que mantenha a ditadura militar como a principal linha narrativa, há divagações diversas e que vão muito além da discussão que se assume nos primeiros minutos, no cartaz e no subtítulo. Tá Rindo de Quê? está mais para um miscelânea sobre o humor nos anos 1960 e 1970 -- além de um tiquinho dos anos 1980 -- e sobre assuntos diversos, como presença feminina, figuras marcantes, momentos históricos, etc. A Ditadura, no final das contas, está mais para um dos pontos ali. Estranho o documentário ser tratado dessa forma. Teria sido mais interessante se tivesse se vendido como a retrospectiva que é.

Esquecendo desse caos narrativo, que não deixa claro sobre o que é o documentário, há bons frutos a serem colhidos de Tá Rindo de Quê?. Primeiro: as imagens de arquivo obtidas para a realização do filme são sensacionais. Há preciosidades antigas e que já pareciam perdidas na memória, como uma esquete onde Costinha acende um cigarro com uma espingarda ou, ainda, momentos icônicos da Família Trapo. O efeito nostálgico ali é imenso e toma conta do filme -- talvez por isso, até, os próprios realizadores tenham sido contaminados pelo saudosismo e esquecido da Ditadura no meio do longa.

Segundo ponto: as excelentes entrevistas. Ainda que ressoe a falta de algumas figuras no longa-metragem, como entrevistas de Didi, Dedé e Jô Soares, o material colhido pelo trio de diretores é impressionante. Conseguiram entrevistar figuras importantíssimas da história do humor no Brasil, como Bemvindo Siqueira, Juca Chaves, Jaguar, Caruso, Carlos Alberto de Nóbrega, Ary Toledo, Agildo Ribeiro, entre outros -- além, claro, de figuras do "executivo", como Boni e Daniel Filho. É delicioso ver as histórias que eles têm pra contar, exercendo um forte magnetismo na tela. Compensa todo o caso narrativo.

Tá Rindo de Quê? seria muito melhor se assumisse, desde o começo, que é uma retrospectiva do humor. A Ditadura Militar, aqui, deveria ser vendida apenas como um dos pontos, não o principal. Sem dúvidas, com isso, Cláudio Manoel, Alê Braga e Álvaro Campos teriam obtido um material bem mais interessante, sem amarras, e cheio de possibilidades -- como foi o trabalho dessas figuras retratadas, aliás. É um assunto que não deveria ter sido tratado de maneira tão quadrada, tão banal. Quem sabe, na continuação sobre humor dos anos de 80 e 90, a coisa melhore. Potencial tem de sobra.

 
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