A premissa de Swallow é interessantíssima. Nela, a dona de casa Hunter (Haley Bennett) vive uma vida sem grandes emoções. Esposa de um rapaz rico, ela faz tudo que ele manda e não sai do itinerário. Sem grandes emoções, sem surpresas, se aventuras. Por isso, quando fica grávida, ela acaba descontando as desobediências no que come. E não é comida, não. São pedaços de metal, pedras, alfinetes, pilhas e até bolinhas de gude.
É uma obsessão que a jovem desenvolve e que, para sair da sua rotina, acaba fazendo essas perigosas 'refeições' longe do marido e de todos. A partir daí, o diretor estreante Carlo Mirabella-Davis tece uma trama interessante sobre transgressões, felicidade, solidão e, sobretudo, papeis no relacionamento. Tudo, é claro, por meio de uma trama inusitada, repleta desses momentos que transitam entre riso e desespero.
Afinal, não é fácil e nem confortável ver uma mulher comer um alfinete, uma pilha e coisas do tipo. O desespero com as cenas -- e as consequências dela -- são palpáveis.
O grande ponto alto de Swallow, sem dúvidas, é a atriz e cantora Haley Bennett (Missão no Mar Vermelho). Consciente de seu papel, a protagonista desenvolve uma personagem crível, verdadeira, próxima da realidade de todos. Por mais que sua compulsão tenha raízes profundas, que são reveladas aos poucos no roteiro do próprio Mirabella-David, tudo é compreensível. Dá para entender a dor da personagem e os seus significados.
O problema é que o roteiro se perde na metade final. Parece que o cineasta e roteirista não sabia onde queria chegar e começa a fazer uma trama de aventura e de autodescobrimento que não faz sentido com tudo que foi apresentado até então. Não há, aparentemente, uma conexão entre as histórias. Só Bennett consegue manter a qualidade entre essas duas partes, que parece transformar o filme num chato "2 em 1".
No final das contas, é melhor avaliar Swallow como se fosse duas histórias independentes. Na primeira, boas ideias, uma câmera interessante de Mirabella-Davis e uma atuação de primeira de Bennett. Na segunda, enquanto isso, um roteiro perdido, pouco crível e que aposta em lugares-comuns para trazer emoção e uma espécie de redenção forçada. Enfim. É mais uma daquelas oportunidades perdidas. Uma pena.
(*) Filme visto durante cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Não consigo concordar com você. A jornada do filme se passa justamente pelo tédio da protagonista em lidar com uma vida regrada por preceitos sociais (o que, concordemos, é um tema visível a olho nu desde os primeiros minutos) em relação ao corpo, espaço e tempo da mulher. O ato final é a concretização de dois preceitos trabalhados previamente no filme: a personagem que, em busca de se sentir mais do que um corpo em manipulação, vai contra tudo o que representa para si mesma até ali e a mais que óbvia não-aceitação do controle do seu corpo por terceiros. A meta do "segundo filme" não é trazer emoção, é apenas quebrar a monotonia que já havia cumprido a sua…