Carlos López Estrada fez barulho em 2018, quando chegou aos cinemas com Ponto Cego. É um filme potente, necessário, urgente. Um grito. Ainda que contido, um grito. Automaticamente, Estrada entrou nos livrinhos de cinéfilos ao redor por aí. Agora, na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o cineasta volta a fazer barulho com o bom musical Summertime.
Com roteiro assinado por mais de 30 pessoas, o longa-metragem é um olhar atento de Estrada sobre as populações marginais de Los Angeles, na Califórnia. Nada do colorido de La La Land ou do luxo de Hollywood. Estrada, como um cineasta que veio e entende seu povo, coloca as dores daqueles que geralmente são silenciados em filmes, como negros, latinos, gays, asiáticos, etc.
A partir disso, Estrada acerta em cheio ao criar um visual muito próprio de Summertime e, principalmente, colocar músicas calcadas no rap e no hip hop para compor esse mosaico bem amplo e complexo. É um filme cheio de vida, apesar de alguns dedos apontados e algumas dores sofridas por seus personagens. Difícil não se encantar pelo visual apresentado no geral.
No entanto, falta. Summertime, apesar de sua grandiosidade, não alcança tudo que pode. A falta de coesão da trama afasta grande parte do público, enquanto o excesso de personagens afeta ritmo e desenvolvimento -- ainda que faça parte da proposta geral. Com tanta coisa acontecendo, muitas questões sociais de LA ficam de escanteio ou são simplificadas demais.
Não é, obviamente, um filme ruim, esse Summertime. Tem seus bons momentos, algumas sacadas espirituosas. Estrada se mostra novamente como um excelente realizador e uma voz forte das populações à margem nos EUA. No entanto, poderia ter ido além por aqui. Mais potência no discurso, mais coesão nas ideias. É bonito, é poético. Mas poderia ser incrível.
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