Quem for assistir Submersão vai se decepcionar. O novo filme de Wim Wenders (Paris, Texas) mistura assuntos completamente sem relação e, de maneira canhestra, tenta construir uma ligação entre eles. Resultado: assistimos dois filmes dentro de um só, de forma alternada. Vamos aos fatos para não partir de convicções.
Danielle (Alicia Vikander, sempre em boa forma) é uma pesquisadora de uma das camadas mais profundas do oceano Atlântico em busca de comparações com ecossistemas marcianos. Em algum momento antes dos eventos presentes do filme, ela conhece James (interpretado por James McAvoy), um agente secreto em missão para desabaratar um braço do Estado Islâmico que está explodindo bombas em toda a Europa. Os dois se conhecem numa maison de alto luxo, se amam loucamente e se separam: ela se encaminha para uma submersão, talvez sem volta, no limbo Atlântico; ele para sua missão suicida.
O fio condutor que une as duas histórias é tão fino como linha de costura: Danielle buscando o contato de um James sequestrado pelo Estado Islâmico antes de submergir. As cenas de flashback, que deveriam ser usadas para unir a narrativa, são encadeadas num esquema por vezes confuso. Já as cenas no presente pouco despertam o interesse do espectador: Danielle sofrendo em laboratórios ultramodernos em alto-mar com dramas existenciais que beiram o clichê – como é mencionado, inclusive, em um dos diálogos. Esse tipo de comportamento não só é ultrapassado em narrativas contemporâneas como destrói a própria essência da personagem feminina empoderada do início do filme.
Já a trama de James, em poder dos jihadistas, tinha todo o potencial para ser uma nova abordagem sobre islã e sua interpretação mais radical. O que vemos, porém, é uma história fundamentada nos já conhecidos estereótipos de desmoralização religiosa, com direito à gravação de vídeos de sequestro, torturas e apedrejamento em nome do fundamentalismo.
Ao utilizar o relacionamento das personagens de modo tão simplista, Submersão também perde a chance de tratar dos temas científicos e geopolíticos que formam sua história. É um filme de coisa nenhuma.
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