Não adianta. A Marvel, depois de Capitão América: Soldado Invernal, Pantera Negra e Vingadores: Guerra Infinita, subiu a barra da expectativa. Fãs, público, indústria e crítica especializada não esperam apenas uma história bem realizada, sem muitos erros, mas banal. O que todos querem agora, a cada filme, é um espetáculo visual embalado em uma trama grandiosa. Capitã Marvel, infelizmente, não entra nessa última categoria. É um longa-metragem de origem, banal e muito simplório, que deve decepcionar os que buscam um show pirotécnico com a heroína mais poderosa do Universo Marvel.
A trama acompanha a jornada de Carol Danvers (Brie Larson), uma guerreira do povo Kree que se vê no meio de uma violenta guerra contra a raça alienígena Skrulls, que tem o poder de adquirir a aparência de qualquer pessoa. A coisa piora quando, após uma emboscada, ela cai na Terra, nos anos 1990, e começa a descobrir informações sobre seu passado e sobre seu povo -- ao mesmo tempo que cria laços com Nick Fury (Samuel L. Jackson) e empreende uma briga com Talos (Ben Mendelsohn), um dos líderes dos Skrulls.
Capitã Marvel, como esperado, segue uma fórmula que vem sendo usada exaustivamente pelo estúdio: piadinhas, cenas de ação velozes e personagens carismáticos, mas durões. Tudo está aqui e pouco se diferencia de outras tramas de origem apresentadas pelo estúdio -- o novo longa, sem dúvidas, está mais próximo de Thor, Homem de Ferro e Capitão América: O Primeiro Vingador do que Pantera Negra. Culpa, também, da falta de ousadia dos diretores Anna Boden e Ryan Fleck (Half Nelson), que não souberam transpor a criatividade de seus filmes indies para um blockbuster desse porte. É muito arroz com feijão perto do que se esperava.
E oportunidades não faltam ao longo da trama. A história dos Skrulls renderiam um bom suspense espacial, ao estilo O Enigma de Outro Mundo. No início da projeção, o filme pende para um ficção científica de aventura, como Star Trek ou Star Wars, mas não vai pra frente. Em um momento ou outro, até tenta fazer uma brincadeirinha nostálgica, tipo Guardiões da Galáxia, mas logo deixa pra trás. Parece que a dupla de cineastas teve medo de se parecer muito com qualquer outra produção e não ter uma cara própria pra heroína. Coisa essa, afinal das contas, que não aconteceu.
Brie Larson (O Quarto de Jack) está perdida em cena também. Ela, assim como o público, parece não entender o que querem dela. Gracinha? Drama? Aventura? No final, a atriz, que ganhou o Oscar em 2016, é o grande ponto fraco das atuações. Samuel L. Jackson (Vidro) engole ela a cada cena com um Fury mais divertido e descontraído. Mendelsohn (Robin Hood), que ultimamente estava se repetindo em seus papéis de vilão, também traz alguns bons momentos. Jude Law (Animais Fantásticos) e Annette Bening (Beleza Americana) estão desperdiçados, com personagens pouco memoráveis.
Mas claro, nem tudo é ruim em Capitã Marvel -- o filme, afinal, é mediano e banal, não ruim. As cenas de ação são bem conduzidas, principalmente quando não salpicam Brie Larson com uma tonelada de efeitos especiais. A química com L. Jackson ajuda a esvaziar os problemas interpretativos e a falta de humor na atriz é recompensada pela inusitada presença de um gato-alienígena. Difícil não dar algumas boas gargalhadas com o bichano.
Algumas cenas de fan service também estão bem encaixadas na trama, escrita por Boden, Fleck, Geneva Robertson-Dworet (Tomb Raider: A Origem), Nicole Perlman (Guardiões da Galáxia) e Meg LeFauve (Divertida Mente). Essas cinco cabeças criativas conseguiram incluir elementos interessantes, como o olho de Fury e um outro objeto, importante para o Universo Marvel, que aparece repentinamente e causa surpresa. Além da boa conexão do filme com o time de Vingadores, apesar da distância de décadas entre uma história e outra.
Dessa maneira, Capitã Marvel é um longa-metragem esquecível por conta de sua história, apesar da importância inegável de uma heroína não sexualizada protagonizando um filme desse porte. Uma pena que o estúdio, e os diretores, não tenham visto as possibilidades narrativas dessa história. As brechas estão todas ali, ao longo dos 124 minutos, mas quase nada é aproveitado. Nem elenco, nem trilha sonora, nem arcos narrativos. É um filme arroz com feijão. Mata a fome, mas está longe de ser um prato com foto no Instagram. Tomara que melhore no próximo.
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