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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Silent Land' é o filme mais original e ousado do Festival de Toronto 2021


O Festival de Toronto 2021 chegou ao fim no último sábado, 18. Foi uma festa morna, com excesso de produções medianas, além de uma maior limitação do TIFF sobre o que poderia ser exibido na versão digital da mostra -- os principais filmes da competição não foram liberados para exibição no Brasil. Assim, nesse cenário, Silent Land foi a maior surpresa de Toronto.


Dirigido pela estreante Agnieszka Woszczynska, o longa-metragem conta a história de um casal polonês (Dobromir Dymecki e Agnieszka Zulewska) que vai passar uma temporada de férias no paradisíaco verão italiano. No entanto, assim que chegam na pousada, descobrem que a piscina está quebrada. Sem água. Logo, sem tolerância alguma, exigem que arrumem a piscina logo.


É aí que entra um personagem estranho para a realidade dos dois: um jovem árabe, que arranha o italiano e fala nada de inglês, chega no local para arrumar a piscina. Ele é bonito, até causa certa tensão sexual com a protagonista Anna, mas logo algo acontece com ele. É o ponto de virada de Silent Land. As coisas não saem como esperado. Tudo vira de cabeça para baixo.

E é neste ponto que entra a genialidade da jovem Woszczynska. Ainda que estreante, ela emula uma direção de Bergman e Michelangelo Antonioni para falar sobre relacionamentos, burguesia, hipocrisia e, adicionando seu olhar bem particular sobre essa história, o silenciamento de camadas mais pobres e frágeis da sociedade -- como o funcionário estrangeiro, quase invisível.


Com atuações frias de Dymecki e Zulewska, assim como a história exige, o longa-metragem vai apresentando uma tensão crescente. Primeiramente, numa camada externa, com a relação desses dois se transformando com as outras pessoas, como o instrutor de mergulho ou o dono da pousada. É algo que apenas um grande cineasta, como é Woszczynska, consegue imprimir.


Depois, se valendo até mesmo de cenas de sexo explícito, no íntimo do casal. É interessante como é criado um jogo entre eles, passeando entre dominação e submissão, a partir dos acontecimentos envolvendo o rapaz da piscina. O tom de suspense psicológico que vai crescendo na trama, principalmente com essas jogadas mais íntimas, alavanca a produção.


No final, a partir dessas jogadas das relações íntimas e externas, cria-se um filme repleto de significado -- o microcosmos ganha projeção macro, falando sobre sociedade e comportamentos silenciadores. É um filmaço. Só é preciso ter paciência para atravessar sua lentidão, às vezes exagerada e fria demais. Mas faz sentido. E Woszczynska mais do que se prova. Se concretiza.

 

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