Outro dia, estavam alardeando por aí como o filme de Han Solo era desnecessário. Quem diz isso não viu Sicario: Dia do Soldado, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 28, e dá continuidade ao filmaço de Denis Villeneuve, de 2015. Sem Emily Blunt, mas com Josh Brolin e Benício Del Toro, o longa-metragem tenta dar liga à história de crimes organizados na região mexicana e que exigem ações do exército americano.
Para compôr a trama, então, volta o roteirista Taylor Sheridan (dos excelentes À Qualquer Custo e Terra Selvagem). No lugar de Villeneuve, Stefano Sollima, do mediano Suburra. A história, enquanto isso, não traz elementos originais: para combater um cartel mexicano que, em tese, ajuda terroristas a entrar nos EUA, Alejandro Gillick (Del Toro) e Matt Graver (Josh Brolin) irão travar uma verdadeira guerra na fronteira com o México.
Assim, eles precisarão lidar com sequestro de crianças, tiroteios com policiais mexicanos e, claro, muita tensão e violência para agir em silêncio e sem deixar rastros.
Este é o primeiro filme com um roteiro defeituoso de Sheridan. Ainda que os problemas da trama não comprometam, também não há o brilho esperado. Afinal, a premissa usada para iniciar o filme -- dos tais terroristas -- é totalmente sem sentido, sem rumo, sem peso narrativo. O que parece nortear a trama, em determinado momento, se torna apenas um distrativo de 30 minutos. Erro que não passou perto de Terra Selvagem e do outro Sicario.
Esses probleminhas de roteiro poderiam ser resolvidos, porém, se a direção fosse um pouco mais original e talentosa. Sollima até tenta, mas não adianta. Ele não é Villeneuve. Nem perto disso. O brilho ofuscante do original não permite que a história de Dia do Soldado ganhe força e chamariz próprio. E sem uma direção incrível, que apenas acerta em algumas cenas de violência crua e visceral, não há como a história se destacar frente ao original.
Até os personagens, tão interessantes no longa de 2015, ganham camadas que não fazem sentido em existir. Brolin (Vingadores: Guerra Infinita e Deadpool) está ótimo, mas parece não saber como lidar com as novas facetas de seu personagem. O mesmo vale para o excepcional Benício del Toro (Star Wars: Os Últimos Jedi), que está melhor, mas tem algumas cenas que não casam com o que foi construído de sua personalidade no filme até então.
Catherine Keener (Corra!) está apenas operante, como sempre. E Isabela Moner (Transformers: O Último Cavaleiro) é um bom talento que precisa ser lapidado. Mas tem futuro.
Interessante notar, porém, como todos esses elementos juntos funcionam, mesmo que tenham tantos problemas individuais. Pode ser uma vontade inconsciente de rever os personagens do longa de 2015. Ou, ainda, pode ser que o filme original ajude a criar todo o clima que esse filme precisa, fazendo com que alguns erros sejam relevados. Vá saber. É a maravilha do cinema. O fato é que o filme, em certos momentos, agrada e tensiona.
Até uma reviravolta absurda e sem consequências ou explicações, quase no final, não tira totalmente do filme. Atrapalha e encerra a história numa decrescente, mas termina antes de uma tragédia.
E assim, Sicario: Dia do Soldado se constitui como um longa que funciona no geral: a história agrada em sua maior parte, o filme tem alguns momentos tensos -- e outros, infelizmente, que dão sono. Não chega nem aos pés do original e nem consegue provar qualquer tipo de necessidade em existir. Muito menos um possível terceiro filme, como dá a deixa. Seria melhor ter ficado só em Sicario. Mas já que este existe, vamos aceitá-lo. E, pelo menos, tentar entendê-lo.
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