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Bárbara Zago

Crítica: 'Sexy por Acidente' parece comédia saída de 20 anos atrás


O trailer de Sexy por Acidente é responsável por contar grande parte da história do filme. Uma menina infeliz por estar acima do peso que acredita que a beleza externa é o que mais importa dentro da sociedade, seja em relacionamentos ou até mesmo carreiras. Após um acidente, ela começa a se sentir extremamente bonita, mesmo que os outros ainda a enxerguem da mesma forma. É um roteiro bastante parecido com O Amor é Cego, comédia que fez sucesso nos anos 2000, estrelada por Jack Black e Gwyneth Paltrow. A problemática está no fato de que, se eu assistisse O Amor É Cego hoje, provavelmente ficaria espantada com as piadas machistas e absurdas -- e corre o risco de Sexy por Acidente cair na mesma armadilha.

Amy Schumer (Descompensada) apresenta uma boa interpretação. Mais do que isso, ela atua de acordo com o que o filme se propõe. É visível sua mudança logo que começa a se enxergar mais bonita. Contudo, Sexy por Acidente ainda repete um pensamento extremamente problemático: aparência é tudo e não tem problema rir de uma pessoa gorda. Logo no início, Renée (Schumer) quebra um aparelho da academia, duas vezes. A cena é mais dramática que o necessário justamente para gerar riso, mas mesmo assim; a graça se dá pelo fato de ser uma pessoa gorda caindo, e isso incomoda.

O título original I Feel Pretty, cuja tradução é "Eu Me Sinto Bonita", é mais condizente com a mensagem que o filme quer passar. Acreditei que a história seria uma boa lição, inclusive com um cunho feminista, já que uma das queixas da protagonista é o fato de os homens não ligam para o seu interior, apenas sua aparência. Mas, infelizmente, o filme peca mais uma vez, e faz piada com o sofrimento alheio. Quando uma mulher considerada bonita, já que se encaixa dentro dos padrões, diz sofrer problemas de auto estima, Renée não dá o mínimo de apoio, e sim ridiculariza isso.

Talvez a única parte da história não mencionada no trailer se dê em sua relação com Avery Leclaire, interpretada por Michelle Williams. Para quem concorreu a quatro Oscars, é uma tristeza vê-la num papel tão fraco e descartável. Acrescenta pouquíssimo para a história, além de estragar um pouco do ritmo do longa. Sua personagem nada mais é do que um estereótipo da garota loira, filha de empresários, que não possui conteúdo algum. Se o filme se esforça tanto para quebrar a imagem que a sociedade faz das mulheres gordas, por exemplo, por que ir na contramão disso ao satirizar outros tipos de mulheres? E isso não se limita só ao papel de Williams.

Quem assiste à Sexy Por Acidente com um olhar crítico, depara-se com problemas bastante parecidos com o que era visto há quase 20 anos na maioria das comédias. Como empoderar uma mulher quando se acha graça no momento em que alguém fora do padrão exibe seu corpo para uma platéia? Como empoderar uma mulher quando se faz questão de ridicularizá-la por ser uma recepcionista? Como empoderar uma mulher que não pode ter nenhum tipo de insegurança a respeito de seu corpo, já que é considerada bonita? Como comédia, é um bom filme. Uma pena que esse tipo de tema ainda cause risos

 

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