O Cerrado brasileiro é um dos biomas mais importantes para a manutenção ambiental do Brasil e, quiçá, da América do Sul. Afinal, seu solo fértil e poroso permite que espécies endêmicas vivam de maneira sustentável, enquanto a água das chuvas infiltra na terra e é distribuída, naturalmente, para rios e reservas de todo o continente. É um ecossistema perfeito, necessário e que, infelizmente, está sendo extinto pela agricultura e pecuária.
Essa é a tese do documentário Ser Tão Velho Cerrado, do cineasta André D'Élia. Dono de uma carreira cinematográfica totalmente voltada ao ativismo ambiental, tendo os ótimos longas A Lei da Água e Belo Monte, Anúncio de uma Guerra no currículo, o diretor e roteirista não tem medo de pôr o dedo na ferida quando o assunto é a devastação do Cerrado em seu novo filme. Em cerca de 90 minutos, ele instiga, provoca e faz refletir.
Para isso, ele escancara na tela a dualidade que existe na região atualmente. Em um momento, a beleza ímpar da Chapada dos Veadeiros e afins. Logo depois, tratores andando em paralelo, com uma corrente no meio, levando tudo pela frente -- árvores, plantas, animais. Em seguida, ambientalistas mostrando a importância da região e o amor que é devotado para a preservação. Depois, agricultores que querem expandir suas terras.
É difícil, então, não entender o que D'Élia quer falar. É quase um grito de socorro, sobrepujado pelo barulho incessante das derrubadas que acontecem na região e que ecoam pelo País. E ainda assim, parece que ninguém dá atenção. O filme, assim, logo se torna urgente, crítico, corajoso e necessário. Muitos podem acusá-lo de ser planfetário ou por não dar espaço ao espectador de refletir. Mas é bobagem. O filme é parcial, sim. Mas honesto.
Prova disso é a diversidade de entrevistas realizadas por D'Élia. Não só conversou com ambientalistas, biólogos, ecologistas, quilombolas. Há várias e várias entrevistas com agricultores da região, deixando que eles mesmos mostrem a fragilidade de suas ideias e a mesquinhez de seus atos. A edição dá um força, é claro, ao colocar trechos desses mesmos fazendeiros engolindo em seco quando há uma provocação. No final, ajuda a dar o tom.
A produção ao redor de Ser Tão Velho Cerrado também é digna de atenção. Não só o título e o cartaz são de uma criatividade surpreendente, como a trilha sonora e fotografia do longa-metragem dão um tom a mais na história a ser contada por D'Élia.
O único ponto fora da curva é o final. Fica claro que o cineasta tentou concluir o filme algumas vezes, mas novidades foram aparecendo -- como a aprovação da ampliação do parque em demérito dos fazendeiros -- e sendo incluídas. É uma conclusão arrastada, com números e referências em demasia, que tiram o impacto geral da obra. Mas, ainda assim, não é bastante para reduzir sua importância e necessidade. Continua sendo um longo e sonoro grito de socorro. Que precisa ser ouvido o quanto antes.
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