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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Sempre em Frente' é filme que traz emoção na simplicidade da vida


O preto e branco de Sempre em Frente, longa-metragem que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 17, não é à toa. Afinal, como já diria Sebastião Salgado, cores distraem. O preto e branco deixa a imagem crua. Vemos as formas, as emoções, os gestos com mais frieza. E mesmo que não tenha escutado Salgado, o diretor Mike Mills (Toda Forma de Amor) segue esse caminho.


Afinal, Sempre em Frente é um filme que quer realçar sua história, personagens e emoções. Nada além disso, apesar da belíssima fotografia de Robbie Ryan. Aqui, a trama mergulha na vida de Johnny (Joaquin Phoenix), um homem que está sem rumo na vida pessoal e apenas focado em seu trabalho após uma separação. Sua vida muda, porém, com a chegada do sobrinho.


Jesse (Woody Norman) está passando por uma tensão familiar: mãe e pai estão separados, e o pai está passando por problemas psicológicos graves. Sem ter onde ficar, o tio é a única saída. Eles, então, passam a conviver enquanto Johnny toca seu trabalho como radialista (ou podcaster). O que ele faz? Entrevista crianças, justamente, para entender os dilemas da vida.

No entanto, apesar de ouvir tudo isso diariamente, Johnny é surpreendido por Jesse. É com ele que o homem mais velho entende detalhes do dia a dia, compreende sensibilidades e encara dificuldades que estava guardando. Ah, e nada de dramalhão: Sempre em Frente sabe como dosar a sensibilidade da história para que não se transforme em algo exagerado, brega, óbvio.


Phoenix está bem, reafirmando toda sua versatilidade em cena -- incrível como consegue passar fragilidade com seu personagem. Cá entre nós, merecia bem mais uma indicação para Melhor Ator do que Javier Bardem ou até mesmo Will Smith, que mais imita do que interpreta. E Norman é um acontecimento: apesar do personagem chatinho, consegue superar desafios.


Por fim, fica o destaque para a boa costura de edição e roteiro do documentário (com entrevistas reais com crianças americanas) com ficção. É uma brincadeira narrativa muito comum no Brasil, em filmes que misturam realidades, mas que raramente chega no cinema americano. É uma boa experiência e traz uma riqueza acima da média para o roteiro, deixando-o mais verdadeiro.


E tudo bem que Sempre em Frente tem seus problemas de ritmo, alguns momentos redundantes e que não avançam muito. O filme, graças ao bom desempenho de Mills, é uma das histórias com mais sensibilidade de 2022. Boas atuações, boa fotografia, boas decisões estéticas. Funciona, vai direto ao ponto, convence. Vale a pena assistir e se entregar à emoção.

 

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