O Rumo foi um acontecimento na música brasileira. Divertido, inusitado, original. Cria de São Paulo, o conjunto brincava com as palavras e com o próprio sentido do que é fazer música. Não era padrão, não era banal. Talvez, até mesmo por isso, acabou enfrentando certa resistência das rádios, que não tocavam o Rumo em suas programações. Acabaram crescendo sozinhos.
E é justamente essa trajetória tão forte, pessoal, intuitiva e independente que acompanhamos em Rumo, documentário de Flavio Frederico e Mariana Pamplona (ambos do interessante Em um Mundo Interior). Ao longo de menos de 80 minutos, mergulhamos nos depoimentos e nas imagens de arquivo do Rumo, entrando aos poucos nas particularidades desse grupo musical.
Logo de cara, Frederico e Pamplona brincam com a percepção visual da audiência. Transformam as entrevistas em traços simples, sem cor. Aos poucos, porém, a história vai avançando. Ganhando vida, contornos, complementos. E, com isso, a imagem na tela vai acompanhando: o cenário ganha cor, depois o entrevistado, até que começam a entrar imagens reais daquela cena.
É uma experimentação visual interessante da dupla de diretores, que vai de encontro com a experimentação que fazia o grupo -- neste caso, porém, com notas e melodias. Depois, quando acabam essas experimentações visuais, Rumo brinca com a narrativa de maneira esperta. O roteiro de Mariana Pamplona tem até um certo deboche inusitado dentro de sua proposta.
Afinal, o principal ponto de reflexão é uma pergunta que é feita logo no começo para Luiz Tatit, um dos cabeças do grupo: qual a importância do Rumo? Tatit diz que nenhuma, até aquele momento. Para parte da imprensa, até certo ponto da história do grupo, o conjunto também foi ignorado. Mas há toda a história por trás dessa formação, dessa música, dessa melodia.
Além disso, a dupla de diretores não se perde em divagações vazias -- como a vida pessoal dos músicos, intrigas e coisas do tipo. É um filme-celebração sobre o grupo, como deveria ser.
É interessante avançar nessa reflexão junto com os entrevistados, que vão complementando visões, opiniões, sentimentos. É um trabalho bem feito, de todos os lados, que resultado em um documentário acima da média -- mas que, infelizmente, ainda se prende em certas obviedades e estilos típicos de filmes sobre músicos. Fãs do Rumo, sem dúvidas, vão se deliciar com o filme.
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