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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Rua Guaicurus' traz retrato inteligente da prostituição em BH


A Rua Guaicurus é uma via, em Belo Horizonte, conhecida pela prostituição. Nessa rua, que lembra o centro de qualquer outra grande cidade do País, conta com essa particularidade de ter mulheres vendendo seus corpos, por algumas horas, em troca de um suado dinheiro. É a realidade, a vida dessas pessoas. E é sobre isso, justamente, que fala o filme Rua Guaicurus.


Estreia desta quinta-feira, 14, o longa-metragem brasileiro mistura documentário e ficção em uma trama líquida, que nunca se concretiza de fato, ao redor dos acontecimentos nessa rua mineira. E é aí que já vem a primeira grande sacada de Rua Guaicurus: a trama e o seu elemento de observação conversam, convivem. Prostitutas são misteriosas. Vivem entre realidade e ficção; verdade e mentira. O filme segue esse caminho. Não sabemos o que é verdade ou não.

É uma grande sacada do cineasta João Borges (do curta Kappa Crucis), fazendo com que o filme ganhe camadas e não fique na mesmice. Tudo bem que é um pouco voyeurístico, apesar de se conter em algumas representações, mas funciona. Outro ponto de interesse é como o filme nunca condena essas mulheres: a venda de seus corpos é uma condição dentro de um contexto maior e o filme, acertadamente, nem tenta compreender isso. Sabe que é assim e ponto final.


A única coisa é que é difícil compreender como algumas linhas narrativas surgem e somem. Ainda que possa fazer parte dentro dessa estética de troca com a própria vida dessas mulheres, o longa-metragem poderia ter ido além e não deixado algumas tramas apenas margeando, sumindo e desaparecendo. Fica uma sensação de incompletude, ainda mais sendo um filme tão curto, com 1h15. Difícil conter essa percepção de que poderia ter sido mais, ido muito além.


No entanto, ainda assim, Rua Guaicurus é um ótimo filme. Complexo na medida certa, sem se complicar demais com reflexões que já foram feitas, mas sempre trazendo novos olhares e percepções. Vale ficar de olho João Borges que, mesmo em um primeiro trabalho, conseguiu fazer algo tão maduro, forte, potente e que, em momento algum, perde a sua validade.

 

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