As florestas ao redor de Roma estão em chamas. O calor é insuportável -- as pessoas soam, ficam mais irritadiças. É nesse cenário que surge a trama de Roma em Chamas, filme que chegou de surpresa na Netflix nesta segunda-feira, 13. Dirigido e roteirizado por Stefano Sollima, o longa-metragem faz o impossível: mesmo com os melhores atores italianos em atividade, consegue ser um filme sem graça, sem coração e esquecível dali um ou dois dias.
A história toda gira em torno de Manuel (Gianmarco Franchini), filho de Daytona (Toni Servillo), um grande mafioso que hoje enfrenta problemas de memória. Logo que a trama começa, o rapaz está indo prestar um serviço para policiais em uma festa regada a drogas, sexo e afins.
O que descobrimos logo mais é que esses policiais não são os mocinhos da história. Sollima, que já contou histórias sobre mafiosos à beça, em produções como ZeroZeroZero e Gomorra, trata de pegar esses mafiosos -- e, principalmente, o filho de um deles -- e girar em 180 graus.
Nada mais daqueles mafiosos intocáveis, que praticamente atingem um patamar de uma divindade (e que, no final, são pegos apenas por conta de problemas de impostos). Aqui, esses mafiosos já estão velhos, largados às traças. A coisa fica levemente mais interessante ainda quando Manuel, fugindo da perseguição imposta pelos policiais, encontra Cammello (Pierfrancesco Favino), um antigo colega de Daytona e que está passando por quimioterapia.
É, assim, uma história de memória, ressignificados e novas possibilidades: A máfia já não é aquela que estamos acostumados a ver nos cinemas -- até mesmo quando falamos de algumas grandes produções como O Irlandês, que trata bastante sobre a temática da velhice nesse universo. Aqui, há mais uma questão sobre a memória se abatendo sobre esses personagens, hoje com poder mais limitado, e com novos poderes surgindo na equação, como as milícias.
Apesar da boa ideia e de um elenco excepcional, com o que há de melhor no cinema italiano hoje, Roma em Chamas nunca consegue atingir seu potencial completo. O filme anda em círculos e, acima de tudo, é muito calculado -- histórias de máfia, por mais que existam planos por trás, tendem a abraçar a imprevisibilidade, dando mais humanidade e verdade aos personagens. Quando tiramos isso do texto, o que sobra são criminosos absolutamente comuns.
Falta charme, ousadia e, principalmente, coração à direção de Sollima. Parece um filme feito no automático, sem compreender os atores em cena e, acima de tudo, a força dessa situação.
Terminamos o filme mais ou menos como começamos, compreendendo que aquilo tudo tem um peso interessante para os mafiosos em cena, mas sem nunca colocá-los diretamente em uma história mais arriscada. Um pouco mais de ousadia poderia fazer com que Roma em Chamas -- que, aliás, nada acrescenta o cenário incendiário -- fosse, pelo menos, memorável.