Rogéria: Senhor Astolfo Barroso Pinto nasce com um problema: competir com a lembrança do excelente documentário Divinas Divas, no qual Rogéria é uma das estrelas. No entanto, rapidamente essa preocupação se esvai. Mais do que falar sobre a diva, este documentário de Pedro Gui fala sobre a artista e o ser humano Rogéria.
Numa mescla de cenas ficcionais, resgates de arquivo e depoimentos, Rogéria: Senhor Astolfo Barroso Pinto busca traçar um perfil da artista que deixou o Brasil órfão em 2017. Seja cantando La Vie en Rose, seja performando ou atuando, Rogéria é desnudada nesse documentário sem exageros. Em 82 minutos, muito é resgatado de sua figura.
Para isso, o estreante Pedro Gui faz um bom mosaico. As cenas ficcionais, por mais que causem estranhamento no começo, são bem encaixadas e servem para completar vazios. O arquivo, usado sem exagero, faz o público entrar em Rogéria. E, por fim, os depoimentos mostram a complexidade de sua figura, difícil de ser bem compreendida.
Jô Soares, Rita Cadillac, Aguinaldo Silva, Bibi Ferreira, Nany People. Essas são algumas das pessoas que se emocionam e levam emoção para a tela ao falar de Rogéria. É lindo de ver como ela influenciou artistas, movimentos, pessoas, histórias de vida. Cada depoimento, por mais lugar-comum que pareça, traz peça a mais no quebra-cabeça.
Mas, principalmente, é lindo de se ver Rogéria falando sobre si mesma, animada, meses antes de morrer. É uma raridade que Pedro Gui tem em mãos. O que se tem aqui é um depoimento histórico, marcante para as artes brasileiras, de uma artista que esteve à frente de seu tempo e que, no momento sombrio que vivemos, faz uma falta tremenda.
Agora, vamos ao desconfortável: os problemas. Por mais que o final seja um ápice e quase faça esquecer os erros, Rogéria: Senhor Astolfo Barroso Pinto é mais um documentário brasileiro que entra no balaio de filmes com fórmula parecida. Entrevista, arquivo, entrevista, arquivo. Pelo menos tem um punhado de cenas ficcionais no meio.
Ainda assim, porém, é inegável que há pouca inventividade aqui -- ainda mais comparando, inevitavelmente, com o filme de Leandra Leal. Um pouco mais de criatividade não faria mal. Ainda mais se tratando de Rogéria, uma artista que sempre teve a inovação como norte. O lugar-comum, para ela, não tinha vez. Não existia.
Pode-se dizer, assim, que Rogéria: Senhor Astolfo Barroso Pinto funciona bem como um filme que cristaliza a memória da artista. É potente, emocionante, interessante. Não é exagerado em duração, nem em um número de depoimentos. Se fosse um pouco mais fora da caixa, poderia ter emocionado mais. Ainda assim, é um linda homenagem.
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