O escultor francês Auguste Rodin está marcado na história por suas obras magistrais e que fazem parte do imaginário das artes plásticas. No entanto, é inegável que sua vida pessoal foi um tanto conturbada. Além de seduzir modelos e aprendizes, o escultor também teve um casamento tumultuado com sua esposa, Rose, e um relacionamento amoroso repleto de altos e baixos com Camille Claudel.
Esta vida intensa, e bem polêmica, é o tema do filme Rodin, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 21, sob a batuta do cineasta Jacques Doillon (O Casamento a Três). E apesar da história interessante e da ótima produção que ronda o novo longa-metragem, o resultado não poderia ser mais entediante: a trama é episódica demais, arrastada e tem um dos arcos mais desinteressantes da biografias de artistas.
Mas antes de tudo, vamos esclarecer uma coisa: Rodin tem, sim, alguns pontos positivos. O primeiro e mais óbvio é em relação à atuação dos dois protagonistas, o sempre competente Vincent Lindon (O Valor de um Homem), como Rodin, e a estrela em ascensão Izïa Higelin, que brilhou em Samba e no bom Um Belo Verão, e que aqui faz uma ótima Camille Claudel. Os dois estão irretocáveis.
Além disso, a produção é esplêndida. Ainda que a maioria das cenas ocorra em ambientes fechados, ficou incrível a reprodução do estúdio de Rodin, mostrando a criação de suas obras clássicas do francês, como a estátua de Balzac e o Portão de Dante, o mais impressionante e complexo trabalho de sua carreira. A fotografia também é belíssima, trazendo um clima de época para a telona.
No entanto, os acertos param por aí. Depois disso, é uma avalanche de pretensiosismo de Doillon, que cria um filme para poucas pessoas e que conta uma história nem um pouco acessível. Afinal, não há didatismo e a projeção joga o espectador para o meio da história, sem nenhum tipo de contextualização. Sou contrário ao excesso de didatismo, mas também não é correto criar um filme limitador e acadêmico.
A edição também não ajuda em nada. Totalmente episódico, o longa-metragem conta com efeitos de transição que cansam e criam a sensação de que o espectador está dando uma longa e desajeitada piscada segundos antes de dormir. O modo de contar a história também prejudica o andar da carruagem, que se torna monótono na maior parte do tempo. Com 30 minutos, achei que tinha passado mais de 1h30 de filme.
Muitos momentos do filme também são vendidos como poéticos, mas são vazios em sua essência. Poesia, neste filme, só ser for de uma criança de 10 anos que está conhecendo a literatura na escola. Há, também, momentos e mais momentos que Doillon tenta criar cenas memoráveis, como os encontros de Rodin com outros artistas da época. Todos, novamente, vazios de significado.
No fim, fica um gosto amargo na boca. Rodin poderia -- e deve -- ganhar uma biografia boa, completa e interessante, como já aconteceu com Van Gogh, Renoir e com a própria Camille Claudel. Esta, infelizmente, ficou presa na superfície e na prepotência de seu realizador. Se quiser conhecer melhor a história de Rodin, vá para os livros e espere ansiosamente por uma boa adaptação nas telonas.
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