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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Resistência' é desbunde visual com trama apática


É um tanto quanto irônica a estreia de Resistência nesta quinta, 28, em meio a greve dos atores e com o fim da greve de roteiristas. Afinal, um dos principais pontos levantados pelos grevistas é como a inteligência artificial é uma ameaça para o trabalho de suas categorias – coisa que estúdios, porém, enxergam com positividade. Enquanto isso, o filme de Gareth Edwards (Rogue One) trata do tema de uma perspectiva bastante inusitada: as IAs como seres injustiçados.


O mundo está colapsado nessa realidade. EUA fazem guerra contra a Nova Ásia – o que não é bem explicado, mas parece uma união (ou seria conquista?) de vários países do Oriente a partir de um prisma chinês. EUA querem banir a IA, vista como o mal do mundo, enquanto a Ásia quer manter os robôs vivendo em sociedade. É aí que entram os dois protagonistas: Joshua e Alphie.


Ele (John David Washington) é um soldado americano infiltrado na Nova Ásia que perde tudo quando uma missão dá errado – perde, principalmente, seu amor, Maya (Gemma Chan). Vê sua vida acabar. Até que ele encontra Alphie (Madeleine Yuna Voyles), garotinha-robô, que possui poderes inacreditáveis, assim como uma empatia inesperada para um ser de metal, programação e parafusos. Joshua, como diz a Bíblia, é a salvação. Mas a salvação de quem?


E é aí que entra o grande debate de Resistência, e que vai por um caminho diferente do que está sendo amplamente discutido hoje: inteligências artificiais não devem ser tratadas com respeito e dignidade? Será que não merecem um espaço na sociedade? São vivos? Como entendê-los?

Edwards, que assina o roteiro ao lado de Chris Weitz (também de Rogue One), se afasta da inteligência artificial e da tecnologia avançada malignas, vista em filmes como RoboCop e Exterminador do Futuro, para algo mais acalentador, como em A.I.: Inteligência Artificial ou até mesmo em Alita. Em Resistência, robôs se preocupam e podem até ser monges tibetanos.


Obviamente, há um contexto metafórico dentro dessa proposta de Edwards. Fala muito sobre militarismo norte-americano, sobre narrativas e, principalmente, sobre domínio – são inúmeros os paralelos que podem ser traçados entre a trama e a Guerra do Vietnã, por exemplo. Tudo isso embalado também por algo que o cineasta faz muito bem: um visual marcante e impactante, que ajuda a construir a noção desse mundo criado aqui. O problema é que a narrativa é ruim.


Pra começar, dá voltas em si própria, como se a metáfora – e a sacada de transformar os robôs em meras vítimas – fosse o bastante para fazer com que Resistência avance. Não é. O filme rapidamente se torna cansativo, inchado, pesado. Edwards parece que não sabe como avançar na discussão. Ao invés de focar na humanidade da ficção científica, foge o tempo todo do gênero.


Além disso, falta personalidade para o cineasta encontrar o coração, a verdade de sua história. Não à toa, Resistência parece, muitas vezes, uma colagem de vários filmes de ficção científica – RoboCop, Exterminador do Futuro, A.I.: Inteligência Artificial, Alita e, é claro, Blade Runner, que se torna logo de cara, nos primeiros dez ou quinze minutos, a referência mais óbvia. Copia e cola.


Resistência poderia ser um grande filme. No entanto, não sabe tornar o debate mais complexo, transformando um roteiro difícil em algo plano, raso, sem muita intensidade. É praticamente bem contra o mal o tempo todo, sem nunca buscar as texturas que nascem a partir das complicadas relações humanas e artificiais. Virou mais do mesmo, sem qualquer novidade.

 

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