Talvez Regra 34 tenha sido um dos filmes brasileiros mais premiados em 2022, junto com os excelentes Carvão e Marte Um. Afinal, venceu o prêmio máximo de Locarno, além de outros dois festivais menores. Boa trajetória em um ano que a cultura brasileira continuava sendo vilipendiada. Mas, uma pena, ao assistir, não consegui encontrar motivo para tanta celebração.
Dirigido por Júlia Murat (do também fraco Pendular), o longa-metragem conta a história de Simone, uma estudante de direito penal que defende os direitos das mulheres e, à noite se apresenta em frente a uma câmera de sexo ao vivo. No entanto, ela começa a entrar em um profundo conflito quando começa a experimentar sadomasoquismo e ir contra suas crenças.
Essa é, basicamente, toda a tônica do filme. Uma mulher em conflito que, durante o dia, defende as mulheres dos mais diversos tipos de abusos, enquanto entre quatro paredes sente prazer ao sentir a violência em sua pele. Ainda que bem bolada inicialmente, é uma dinâmica que simplesmente não encontra outros escapes. O filme fica, eternamente, nessa dicotomia básica.
Ou seja: ela vai para a faculdade, participa de discussões sobre papel da mulher e outras coisas do tipo, depois vai pra casa. Nesse momento, às vezes ela transa com alguém, se apresenta em sites de camgirls ou, então, começa a experimentar o masoquismo. É algo que não sai disso. Júlia Murat, que assina o roteiro ao lado de outros cinco roteiristas (pois é!), anda em círculos.
Além disso, há uma problemática que me incomoda deveras: essa mulher branca, vinda de um lar privilegiado, explorando o corpo dessa mulher preta. Até foge de fetichização, mas acaba recaindo em uma zona cinzenta -- principalmente pelo filme ter uma tônica racial fortíssima, ao tentar mostrar como a aproximação da violência é diferente para Simone, preta e da periferia.
Pelo menos a atuação de Sol Miranda é um acontecimento. Ela se entrega de corpo e alma ao projeto e traz uma personagem marcante, apesar de todos os tropeços de Regra 34. Uma pena, enfim, que seja um filme tão fraco. Tem boas intenções e ideias, mas acaba morrendo na praia com uma execução que não apenas é trivial, como também problemática em suas intenções.
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