Racionais MC's é um dos pilares da música brasileira. Não só deu voz para parte da população que antes não era sequer ouvida, como fez com que o rap avançasse por aqui. É um dos grupos mais importantes do Brasil, quiçá do mundo. E, por tudo isso, o documentário Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo, estreia da Netflix nesta quarta, 16, não poderia ser tão quadrado.
Dirigido por Juliana Vicente (Cidade Correria), o longa-metragem tem uma proposta simples: falar sobre a origem e história dos Racionais MC's, com entrevistas com os integrantes, e sempre refletindo sobre o impacto da música nas composições dos Racionais. No entanto, ao contrário do que se espera sobre qualquer coisa do grupo, o filme segue o bê-á-bá do gênero.
São entrevistas, seguidas de imagens de arquivo, e que depois desemboca em mais entrevistas. Há momentos fortes e as reflexões dos quatro integrantes transcende o documentário em si -- o depoimento de Ice Blue falando sobre seus sonhos e o desejo que sentiu ao estar de cabelo cortadinho em um restaurante é histórico. Só que o documentário aposta toda sua força nisso.
Juliana, infelizmente, não consegue colocar a genialidade do grupo no formato de Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo. Tudo é tão banal e batido que se torna chato, previsível, óbvio. Como sempre, esquecem que documentário também é cinema e, por isso, precisa ter início, meio e fim. Isso sem falar do clímax. É, enfim, apenas um documentário biográfico convencional.
Obviamente, os fãs mais ávidos dos Racionais MC's vão se emocionar, cantar junto, vibrar com cenas resgatadas pela pesquisa do documentário. Tudo isso funciona bem. Mas será que não poderiam ter ido além, encontrado outro espaço para falar e refletir? Quando o documentário passa a sair do seu quadradinho nos últimos dez minutos, pronto: o filme chega ao seu fim.
Uma pena que um documentário sobre os Racionais MC's seja tão careta, quadrado, óbvio. Com depoimentos tão fortes e uma história que se confunde com a história da própria música brasileira, dava pra esperar (e encontrar) mais por aqui. Do jeito que ficou, Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo é só mais um desses milhares de documentários biográficos por aí.
Creio que pra quem gostar de sensacionalismo não vai agradar mesmo.
Pois, o documentário é fatos reais de geração periférica, eu assistir e voltei no tempo, trouxe lembranças boas e ruins. De uma época de preconceitos e descriminação que até hoje existe. 4 sobreviventes, só quem viveu sabe! Garanto que tenha muita história pra contar, provavelmente seria uma série.
Claramente não é só mais um documentário bibliográfico, eu que já assisti tantos, desconheço algum que tenha na história uma jornada de mais de 30 anos até chegar ao patamar que quatro negros pobres da periferia chegaram. Não só a história deles, mas de aceitação do negro, pobre, do novo estilo lançado, de um conceito, de moral, de verdades ditas por frases realistas, pela discriminação sofrida no quesito econômico, social e linguístico, além da etnia. Espero que cite uma caminhada parecida e que ainda inspira tanta gente. Ser crítico é uma coisa, ser invejoso e não ter a capacidade de entrar numa luta por tanto tempo é outra.