
Tempo. Essa é a palavra que domina Quando Chega o Outono, longa-metragem de François Ozon que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 27. Aqui, afinal, o cineasta avalia como a passagem do tempo se aplica em diferentes situações de nossas vidas -- diferenças entre gerações, culpas e até mesmo mudanças de comportamento. Como o tempo transforma?
São essas as questões perseguidas por Ozon em uma história sobre Michelle (Hélène Vincent), uma aposentada que espera seu neto Lucas, mas um erro arruína seus planos. Ao mesmo tempo, o filho de sua amiga Marie-Claude (Josiane Balasko) é libertado da prisão, revivendo o propósito de Michelle. Um filme de encontros e desencontros, com o tempo como tempero.
É um filme com a cara de Ozon -- aqueles cenários franceses idílicos, com cara de interior da França. Os personagens são sempre dúbios, sempre difíceis de decifrar. Também há um questionamento sobre as fundações das bases sociais da França. Ao Estadão, em ótimo papo com o jornalista Bruno Carmelo, Ozon falou como a religião não garante que a pessoa não peca.
E é isso que acompanha Michelle. A primeira cena já é com ela na Igreja -- outro tema recorrente na cinematografia de Ozon -- e o tempo todo ela está tentando se redimir com a família, com amigos, com ela própria. É o tempo, novamente, como um agente transformador.
Quando Chega o Outono, assim, aos poucos se torna um filme de profunda reflexão sobre quem somos e em quem nos transformamos -- se é que nos transformamos. O francês não está interessado em perguntas, mas mais em cutucadas e provocações. É um olhar afiado sobre a sociedade francesa, a necessidade de redenção e de fazer as pazes com você e com o passado.
Ozon se atrapalha bastante na forma de tratar o tempo após um acontecimento chocante ali na metade da história, inserindo discussões espirituais que não avançam e não se decidem. O filme patina um pouco e fica um tempo sem rumo. É o ponto fraco da história, o elo mais frágil, como se Ozon quisesse personificar tudo aquilo que está falando sobre tempo, culpa e morte.
Ao mesmo tempo em que tenta adicionar profundidade na história colocando um espírito na equação, Ozon a enfraquece com ar de fantasia pueril. É um elemento que soa estranho, desconfortável. No seu estudo sobre passagem do tempo e choques geracionais, o cineasta francês parece se distrair. Um pequeno deslize, mas que é o bastante para enfraquecer o todo.
Pelo menos o longa foge de outras convenções e ideias batidas, consciente de sua missão em falar sobre tempo. Tempo, tempo, tempo! É o estudo, a preocupação de Ozon -- algo que já pode preocupar o francês, aos 57 anos. Isso e tudo que a batida do relógio carrega: culpa, distância, separação. São sentimentos expiados com a passagem do tempo? Ou ficam mais carregados?
Quando Chega o Outono é o melhor Ozon desde Graças a Deus. Algo que pode animar os fãs do cineasta, após deslizes como o batido Verão de 85, o dramalhão Está Tudo Bem e outros que ninguém se importou, como Peter von Kant e O Crime é Meu. Ozon parece recuperar a forma e reencontrar os temas que lhe agradam -- hipocrisia, sociedade francesa, tempo, culpa, crime. Tudo isso está aqui, em um filme que vai te deixar pensando, pensando e pensando...

