Pense numa mistura dos filmes Looper: Assassinos do Futuro e Identidade Bourne. Agora, acrescente clichês -- muitos clichês -- e uma tecnologia que promete muito e não entrega quase nada. Pronto! Você tem a receita de Projeto Gemini, novo longa-metragem do instável diretor Ang Lee (As Aventuras de Pi) e protagonizado duplamente por Will Smith (Esquadrão Suicida). O resultado não poderia ser mais decepcionante.
A trama acompanha a difícil jornada de Henry Brogan (Smith), assassino profissional que faz parte de um programa governamental. As coisas saem do controle, porém, quando ele descobre que seus chefes estavam mentindo sobre o perfil das pessoas que foram mortas pelas mãos de Brogan. Aí começa uma jornada alucinante em que Júnior, a versão clonada mais jovem de Henry, passa a perseguir sua 'matriz' para matá-lo.
Este é um roteiro trabalhado por David Benioff (Game of Thrones), Billy Ray (Jogos Vorazes) e Darren Lemke (Shazam) ao longo de anos. Era esperado, afinal, o momento tecnológico certo para começar a rodar o filme sem que ficasse estranho -- Ang Lee e seus produtores ainda optaram por levar a tecnologia do 3D+ para o longa-metragem, aumentando mais a profundidade da tela. Ou seja: um filme, aparentemente, complexo.
No entanto, durante os quase 120 minutos de duração do longa-metragem, quase não se percebe essa complexidade toda. O roteiro é uma bagunça total -- Benioff deve ter se inspirado na última temporada de Game of Thrones para desenvolvê-lo. Não há uma clara compreensão do que se pretende aqui. Se é um drama existencial, uma ficção científica mais tímida ou ação 'porreta', que faz o público saltar de emoção da poltrona.
São três gêneros que ficam passeando pela tela, sem nunca se apresentarem de fato. A sensação é de que o filme nunca começa e nunca tem chance de se desenvolver. Além disso, pouca coisa é realmente original aqui. A questão central, do clone mais jovem querer matar o mais velho, está em Looper. A espionagem se rende à clichês como o da espiã disfarçada (Mary Elizabeth Winstead), do líder megalomaníaco (Clive Owen).
Do elenco, o único que tem espaço para algo a mais é Smith, que consegue emocionar aqui e ali em cenas mais dramáticas. No entanto, ele acaba sendo atrapalhado pela tecnologia do rejuvenescimento. Não está tão bem acabado quanto Lee prometia -- ou, talvez, esperava. Tem uma imagem de videogame que tira do filme, por vezes. Fica claro que tudo ali é montado, digital, artificial. Complica um pouco para a experiência total.
Além disso, esse 3D+ é uma bobagem -- como é o 3D em si. Não faz diferença alguma.
Assim, Projeto Gemini é um filme convencional, pouco memorável e que acaba se cercando de bobagens tecnológicas para tentar criar algo que vá além do que se vê por aí. O resultado, assim, é um filme morno, que pode agradar por uma boa cena dramática e três boas sequências de ação. De resto, não dá pra lembrar de nada. Pena para Will Smith. Já faz algum tempo que o astro não emplaca algo realmente grandioso.
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