Crítica: Em 'Presença', Steven Soderbergh explora o cinema de fantasmas
- Matheus Mans
- 2 de abr.
- 2 min de leitura

Steven Soderbergh é um cineasta que gosta de experimentar -- formatos, narrativas, jeitos de usar a câmera. Ele nunca está confortável em fazer o mesmo, repetir fórmulas já certeiras ou se aventurar por caminhos óbvios. O novo Presença, segundo filme do norte-americano apenas em 2025, é um bom exemplo de como são os caminhos de um cineasta propositivo e inquieto.
Estreia desta quinta-feira, 3, o longa-metragem conta a história de uma família que muda para uma grande casa no subúrbio dos Estados Unidos. Só que lá mora uma entidade a espera deles.
Uma história óbvia? Um terror banal? Nada disso. Em Presença, Soderbergh transforma a câmera na entidade. Ela se move livremente pelo espaço, como se o espectador estivesse vendo tudo pelos olhos do fantasma. A entidade sobe e desce escadas, entra em quartos e observa o pai da família falando no celular no quintal -- é uma mosquinha que transita entre tudo e todos.
Há algo de A Ghost Story aqui, principalmente na forma que o fantasma entra na roda do tempo -- ainda que David Lowery tenha um trabalho muito mais refinado e potente em termos gerais.
Ainda assim, Presença diz muito apenas pelas suas escolhas visuais. A forma que Soderbergh carrega a câmera em cada cena diz algo, enquanto o roteiro de David Koepp, também o roteirista do ótimo Código Preto, tenta dar dimensão de uma família enfrentando problemas.
É uma linguagem interessante e que ajuda a dar uma nova dimensão para filmes com fantasmas. O experimentalismo leva o filme pra frente. Não é apenas um exercício vazio.
O calcanhar de Aquiles de Presença acaba sendo o roteiro pouco espirituoso de Koepp. Apesar da boa ideia de como fechar a trama e de todo o trabalho experimental de Soderbergh com a câmera, o longa-metragem padece ao longo de seus 85 minutos de um roteiro que dá voltas e voltas e voltas sem nunca encontrar seu ponto de apoio. É como se o texto do filme estivesse já satisfeito no tom experimental da câmera, nunca encontrando uma boa história a ser contada.
As atuações competentes do filme (com ótimos trabalhos de Lucy Liu e Chris Sullivan como os pais da família) ajudam a espantar um pouco a fragilidade da história, mas não salva da sensação de que muito pouco foi contado aqui. Aposto que o espectador não vai conseguir se lembrar de detalhes da história dias depois -- só da câmera, dos atores e do final impactante.
Presença, ainda assim, é mais um exemplo de como Soderbergh continua sendo um cineasta que está sempre em busca do novo. Enquanto os grandes estúdios apostam cada vez mais em mesmices, jogando no seguro, o diretor de longas como Traffic e Sexo, Mentiras e Videotape se mantém como o nome que está sempre tentando algo, por mais que nem sempre dê certo.


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