A temporada de premiações está um bafafá só -- Emília Pérez está atraindo todas as atenções, principalmente por sua discutível forma de retratar o México. No entanto, não dá para dizer que é o único filme problemático da competição. Nesta quinta-feira, 30, estreia um outro longa-metragem que, a meu ver, é ainda mais complicado: Setembro 5, indicado em Roteiro Original.
Dirigido por Tim Fehlbaum (de Refúgio), o longa conta a história de uma equipe de tevê dos EUA que precisa se virar nos 30 para conseguir cobrir, ao vivo, o sequestro de atletas israelenses por guerrilheiros palestinos durante a Olimpíada de Berlim. Quem cuida do quente é Geoffrey (John Magaro), que precisa comandar o cobertura enquanto lida com seus dois chefes imediatos.
De um lado, Fehlbaum é hábil em mostrar os bastidores do jornalismo. O clima transpira pressão e é interessante observar as decisões de Geoffrey e como isso reverbera na cobertura na tela. É jornalismo puro e isso é, disparado, a melhor coisa na direção e texto de Setembro 5.
No entanto, quando um filme chega na tela grande, não dá para ignorar tudo que envolve esse lançamento -- o timing, a história, quem produz, quem atua. Oras, não podemos ignorar que o filme estreia em um momento em que as tensões entre israelenses e palestinos estão acirradas em meio a uma guerra (genocídio!) que toma conta do clima de todo o Oriente Médio.
Setembro 5 parece não ter medo em tratar israelenses como coitadinhos e palestinos como os malvados -- não à toa, a única imagem que temos do povo árabe é com máscaras, como se fossem monstros. No início, um personagem diz que é para tratar os palestinos em questão como guerrilheiros, mas o próprio texto ignora isso e os tratam como terroristas, apenas.
Nada disso é em vão. É Hollywood mexendo suas engrenagens para tentar, de alguma forma, moldar o imaginário das pessoas. É o tal soft power, que move o cinema americano desde que existe. Por isso, é preciso olhar para isso e, acima de tudo, observar como o filme conseguiu se embrenhar em premiações e no circuito. Como dito: nada é em vão. Nada. E nós, como críticos, devemos nos atentar e diminuir o impacto ao máximo. Que Setembro 5 passem à margem!