Não é possível falar da história cultural da Polônia sem falar de Kalina Jedrusik, atriz e cantora que se tornou um verdadeiro ícone revolucionário do país europeu. Não à toa, foi muito comparada à americana Marilyn Monroe. Não só pela sensualidade e beleza, mas também por conta de seu espírito de rebeldia. E é por isso tudo que Prazer, Kalinda é um filme menor do que realmente poderia ser. É quadrado no que poderia ser ousado, banal onde seria memorável.
Mas vamos por partes. Prazer, Kalinda começa exibindo alguns detalhes da rotina de Kalina Jedrusik. Mostra não só sua vida profissional, como também o que acontecia por trás da cortina do palco ou nos bastidores do cinema e da televisão. Ela, afinal, era uma celebridade que despertava amor e ódio, paixão e ciúmes, arrebatamento e tristeza. Alguns não queriam ela por perto, outros só queriam isso -- sua atenção, seu olhar. Ela ficava no fogo cruzado, ferida.
O acerto central de Prazer, Kalinda está na atuação magnética de Maria Debska (Diversão Pesada) como essa estrela polonesa. A jovem atriz claramente estudou e buscou compreender melhor o que essa personagem tão icônica para a cultura polonesa representava e ainda representa. Há detalhes em cena que são bem particulares de uma atuação assertiva e que, acima de tudo, sabe como lidar com as particularidades mais interessantes de Kalina.
No entanto, a sensação que fica é que os pontos positivos param por aí. Prazer, Kalinda tem uma ânsia de ser várias coisas, mas nunca é de fato. Por exemplo: o filme, em vários momentos, flerta com o musical, com cenas puxando para aquela emoção do cantar no meio da rotina. Mas parece que tem medo de ser um musical de verdade. Tudo é tímido, pequeno demais. Fica a dúvida, inclusive, qual é a proposta do longa. Ser um musical, um drama, uma biografia? Tudo?
Além disso, não há intensidade. Lembra um pouco a minissérie feita no Brasil para a cantora Maísa ou até mesmo o filme sobre Elis Regina: será que personalidades tão fortes mereciam produções tão banais? Maísa tem seu charme e uma boa atuação, mas nunca traz a força e o tom de dramalhão. Elis, enquanto isso, nunca passa a potência (tampouco a mistura de força e fragilidade) dessa cantora que eternizou verdadeiros hinos em nossa cultura. Falta cinema.
Prazer, Kalinda, assim, parece feliz em apenas contar uma história banal, com começo, meio e fim, apostando em uma mesmice um tanto quanto cansativa. Já deu, cá entre nós, de histórias e cinebiografias tão banais, iguais. Precisamos de produções que cheguem aos pés de seus retratados, com ousadias, narrativas e visuais, que tornem o produto audiovisual tão distinguível quanto as personalidades retratadas. Dessa forma, Prazer, Kalinda passa. A atriz fica.
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