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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Pisque Duas Vezes' é estreia interessante de Zoë Kravitz na direção


É sempre interessante observar os primeiros filmes de um cineasta. É o momento mais cru desse artista, quando está organizando as ideias, mostrando suas influências, compreendendo qual linguagem seguir. Pisque Duas Vezes, estreia desta quinta-feira, 22, é o primeiro filme da também atriz Zoë Kravitz -- e que traz toda sua vulnerabilidade e formação como cineasta.


A história, que lembra bastante o sucesso recente Não Se Preocupe, Querida, acompanha um grupo de mulheres que acompanha alguns homens para a ilha particular de Slater King (Channing Tatum), magnata da tecnologia. Dentre elas, Frida (Naomi Ackie), uma garçonete que vê nesse possível relacionamento uma forma de sair da vida simples e pacata que leva.


Obviamente, as coisas não são como parecem ser. Aos poucos, os personagens vão revelando novas facetas, novas ideias e objetivos. É quando o filme começa, enfim, a nos surpreender.


Pisque Duas Vezes se revela como um filme não só de ambiente, mas também de análise social. No roteiro assinado Kravitz e por E.T. Feigenbaum (da série Alta Fidelidade), revela-se uma trama que brinca com verdades e mentiras, passos em falso, percepções e memória -- tudo isso, discutido de forma etérea por quase toda duração do longa-metragem, ganha corpo bem no momento que o filme revela suas verdadeiras intenções. É a preparação final do terreno.



O fato é que esse exercício cinematográfico de Kravitz -- que está rodeada de amigos e pessoas próximas na feitura do filme, como o noivo Channing Tatum -- revela uma realizadora que não só tem o que dizer, a partir dessas discussões sobre memória, medos e intenções, como também há um olhar estético interessante. Pisque Duas Vezes não se contenta em ser banal.


A edição é rápida, cortante, ácida. E isso não é apenas perfumaria: ao trazer uma montagem mais moderna e dinâmica, assinada por Kathryn J. Schubert (Indomável Sonhadora), as sensações do espectador acompanham a dos personagens, desnorteados com o que está acontecendo. Montar o quebra-cabeça dos acontecimentos cria engajamento com o espectador.


O visual também ajuda nesse processo: com ares de The White Lotus, até pelos tons de exotismo que ganha por estar nessa ilha distante e tropical, Pisque Duas Vezes tira os personagens do ambiente. Tudo ao redor é frio, reto, calculado -- como se nada fosse natural, apesar do mundo verde lá fora. Nessa mistura, a estranheza toma conta do longa-metragem.


Ackie, que interpreta a Whitney Houston em I Wanna Dance with Somebody, potencializa essa estranheza: é uma atuação que parece morar no mundo dos filmes de Jordan Peele, transitando entre uma histeria desesperada e uma monotonia pacata. É um tom difícil de ser alcançado. Ainda tem Adria Arjona, mulher que também está na ilha, essencial nos momentos-chave.


Pisque Duas Vezes termina com tons positivos: apesar de esbarrar na história e no visual de outras produções recentes, perdendo o fôlego quando falamos de originalidade e criatividade, o longa-metragem mostra ousadia estética e, sobretudo, no que tem a dizer. Não só fala sobre memórias e sensações, mas também sobre dar a volta por cima -- e mostrar que, às vezes, a presa pode virar predador, jogando para o espectador até que ponto isso é certo ou errado.

 

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