Se tem um livro adolescente brasileiro que as pessoas ansiavam por uma adaptação, este livro é Perdida. Escrita por Carina Rissi, a obra acumulou alguns milhares de exemplares vendidos ao redor do País e angariou uma legião de fãs. Agora, após muitos anos de pedidos e de tentativas frustradas, a história ganha uma adaptação para os cinemas que estreia nesta quinta-feira, 13.
Perdida, que conta com uma direção tripla de Katherine Chediak Putnam, Dean W. Law e Luiza Shelling Tubaldini, acompanha a história de Sofia (Giovanna Grigio, da novela Chiquititas), uma jovem de nosso tempo que encontra um portal que a leva para a primeira metade do século XIX no Brasil. 1830. É, enfim, o sonho da jovem, que sempre repete seu desejo de viver na mesma época dos romances de Jane Austen. E é nessa viagem no tempo que ela conhece Ian Clarke (Bruno Montaleone), homem de gestos e roupas totalmente distintos, mas que a arrebata.
É divertida a falta de conexão entre Sofia e os personagens de 1830 -- o ponto alto do filme. Ainda que uma parte dos atores tenha uma certa artificialidade no ar, sem conseguir convencer, o bom trabalho de direção de arte empolga e coloca o espectador dentro do filme. É fácil torcer pelo romance entre Sofia e Ian também: por mais que sejam água e vinho, em termos temporais, há aquela ingenuidade que faz nascer, em cada um de nós, aquela torcida genuína.
Também é importante destacar, principalmente, o trabalho dos atores coadjuvantes. Há algumas joias aqui, como o Hélio de La Peña como o Dr. Almeida, Bia Arantes como a "vilã" Teodora e, ainda, Luciana Paes, sempre divertida, como a fada madrinha toda atrapalhada. São bons atores e que colocam um tempero a mais na história que está sendo contada ao longo de Perdida.
No entanto, há de se destacar que o longa-metragem parece deslocado no tempo e espaço. Rissi argumenta, consistente e reiteradamente, que quis escrever um conto de fadas e ponto final. Deixou alguns fatos históricos de fora, assim como focou naquele romance idealizado que existe desde nos cinemas desde que Branca de Neve e os Sete Anões estreou. Será que é tempo disso?
Perdida, por mais bem produzido e intencionado que seja, parece um pouco perdido no espaço-tempo. Primeiramente, por uma crítica que se repete há alguns anos sobre o livro de Rissi: o fato de que ela ignorou a escravidão, que existia em 1830. É claro que faz sentido dentro do que está sendo proposto aqui, assim como foi com Bridgerton, mas é preciso sempre trazer aquele questionamento: apagar a escravidão, algo tão violento de nossa História, é o caminho pra tudo?
Hamilton sofreu pesadas críticas sobre isso, apesar daquela empolgação inicial com a produção musical, e é preciso dizer que é uma preocupação mais do que válida. É algo que exige ser dito.
Além disso, outro fator que parece colocar Perdida no tempo errado é o final. Não vou entrar em detalhes aqui, é claro, mas soa ultrapassado depois de todos os esforços do cinema, nos últimos anos, em apagar aquele papel da mocinha como sendo submissa ao homem. Pior: Sofia, ao longo do filme, se mostra o tempo todo como alguém à frente de seu tempo e dona de si. Mas, apesar disso, acaba se rendendo em um final piegas e que não encaixa com sua personalidade.
Perdida é um filme realmente bem produzido, com uma história bonitinha, que com certeza vai agradar aqueles que são fãs do livro. Mas será que há espaço para aqueles que chegam de fora? Que não conhecem a história original? Acredito que, por estar perdido no tempo, a recepção seja menos calorosa do que deveria. Falta atualidade em um filme que fala tanto sobre tempo.
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